Inovações promovem mais sustentabilidade e produtividade na produção de trigo
Um estudo inédito da Embrapa revelou que o Brasil tem potencial para diminuir em até 38% as emissões de carbono na produção de trigo, combinando técnicas sustentáveis e inovações tecnológicas. A pesquisa, divulgada nesta semana, destaca que a adoção de práticas como plantio direto, rotação de culturas e uso eficiente de fertilizantes pode transformar o cultivo do grão em um modelo de baixo impacto ambiental, sem comprometer a produtividade.
Como o Brasil pode reduzir em 38% a pegada de carbono na produção de trigo com estratégias sustentáveis
O trigo, terceiro cereal mais consumido no país, responde por 6% das emissões de gases de efeito estufa do agronegócio brasileiro. Porém, o estudo aponta que a integração de sistemas agropecuários, o manejo adequado do solo e a otimização de insumos são capazes de reduzir drasticamente esse impacto.
A sustentabilidade não é um custo, mas um investimento. O produtor que adota essas práticas ganha em resiliência climática e competitividade global, explica o pesquisador da Embrapa e coordenador do estudo, João Pedro Silva.
“A redução de 38% é viável hoje, mas depende de políticas públicas que incentivem a transição e da conscientização dos produtores. O trigo sustentável pode ser um diferencial do Brasil no mercado internacional”, afirma João.
A pesquisa analisou dados de mais de 200 propriedades em regiões tritícolas do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Em áreas onde o plantio direto e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) já são adotados, as emissões por tonelada de trigo caíram 22%. Com a expansão dessas técnicas e a substituição de fertilizantes tradicionais por alternativas de baixo carbono, a meta de 38% torna-se alcançável até 2030.
“O trigo brasileiro tem potencial para ser não apenas alimento, mas também um produto ambientalmente certificado. Isso abre portas para mercados premium na Europa e Ásia”, destaca Carlos Eduardo Freitas, economista da Embrapa vinculado ao projeto.
Impacto econômico e desafios
Apesar do avanço, o estudo alerta para a necessidade de investimentos em assistência técnica e crédito rural específico para práticas sustentáveis. Atualmente, apenas 15% dos produtores utilizam tecnologias de baixo carbono de forma consistente. Outro obstáculo é a dependência de fertilizantes importados, responsáveis por 40% das emissões do setor. A Embrapa propõe parcerias com a indústria para desenvolver insumos nacionais e biofertilizantes.
Com a implementação das medidas, o Brasil poderia economizar até R$ 2,1 bilhões anuais em créditos de carbono, além de ampliar a participação no mercado global de trigo – hoje dominado por países como Rússia e Canadá. O grão sustentável também fortaleceria a segurança alimentar, já que o país importa 50% do trigo que consome.
Para a pesquisadora da Embrapa Trigo (RS) Vanderlise Giongo, estudos sobre o impacto ambiental da produção de trigo são cada vez mais necessários num cenário de aquecimento global.
“Precisamos identificar, avaliar e propor modelos de produção de trigo visando à redução de impactos ambientais, geração de renda e o estabelecimento de diretrizes para o cultivo de trigo de baixo carbono”, defende Vanderlise.