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Por Leonardo Lima

Depois de duas semanas com recordes de posts e notícias sobre a COP28 e com a mesma dificuldade de ser fechado um acordo entre os países participantes ou partes no jargão “copístico”, me veio à cabeça a COP27.

Como um “déja vù”, me teletransportei para um ano atras e fui verificar que algo similar também passou no Egito que sediou o último encontro.

Assim como agora, a COP27 também teve prorrogação e definição nos pênaltis. Quase não se chegou a um acordo.

Relendo notícias das últimas COPs, vejo que sempre há centenas de notas reportando que foi encerrada com maior ou menor sucesso a COP do ano em que foi realizada.

Nesse ponto e principalmente depois de todo o alarde dessa última, parei para pensar o que significa uma COP de sucesso ou que atinja os seus objetivos. Que objetivos? Os do papel ou da realidade?

Sem querer ser pessimista com o resultado dessa, que acabamos de presenciar o seu encerramento, pergunto quem lembra do que foi definido na COP27.

Para quem não lembrar assim como eu não lembrava , segue um link muito interessante com os principais acordos gerados lá . https://laclima.org/wp-content/uploads/2023/03/cop27outcomes_portugues.pdf.

“Muy bien” como diria um amigo argentino . Aqui mora o perigo. Veja se está de acordo comigo.

O sucesso de uma COP não está no acordo firmado ao término do encontro entre as partes. Está na sua execução em tempo e forma.

Se estamos de acordo com essa singela premissa, me fiz outra pergunta que não quer calar na minha consciência:

Quem monitora a execução dos acordos firmados ao nível governamental e ao nível das corporações presentes ao encontro?

Quem monitorou e prestou contas dos acordos firmados na época . No início da COP28 foi verificado o que foi realizado na última? Qual foi o percentual de atingimento dos objetivos traçados? Quem cuida da governança? A resposta deveria ser óbvia, a ONU claro.

Seguramente a ONU deveria ou deve ter feito. Minha pergunta é quem dos demais mortais do planeta seguiu acompanhando ou conhece os resultados? Que chance temos de não seguir assando em fogo brando? Que papel no cabe nessa equação?

A resposta está em possivelmente algumas centenas de abnegados, que carregam o bastão de salvar o planeta de virar um grande forno de cocção para 8 bilhões de seres humanos que não foram projetados para viver sob tornados, inundações, temperaturas acima de 40 graus, ondas invadindo suas casas, chuvas torrenciais que fazem despencar tudo a sua volta etc. tem a resposta. Você conhece algum deles?

Portanto, sem querer me atrever a julgar se a COP28 foi um sucesso ou não no papel, tarefa que deixo com todo prazer para os especialistas responderem, minha pergunta vai para quem vai fazer sistematicamente o follow-up do que foi acordado no papel e levantar a mão alertando se está ou não sendo cumprido.

Ah, então agora ficou fácil. Basta ler o que foi acordado, identificar os responsáveis e fazer o follow-up.

Estimado leitor, infelizmente tenho que decepcioná-lo, dizendo que o primeiro passo já é dos mais difíceis. Como encontrar na forma que um ser humano de razoável saber entenda, o que foi acordado no emaranhado de documentos “copísticos” que são gerados?

Fico com a amarga sensação de que aproximadamente 8 bilhões de seres humanos como nós, eu que escrevo e você que lê, estamos nas mãos de gênios do saber que usam propositalmente linguagem “onística “ ou seja que vem da ONU para definir o nosso destino.

Um cipoal de documentos que claramente não foram concebidos para seres humanos comuns. Que requer rodadas e rodadas de discussão para escolher uma palavra que agrade a todos. Portanto, quem vai poder segui-los e reportar sistematicamente os avanços? Necessitamos de tradutores e vemos que muitos o fazem, felizmente. Mas novamente, tudo está no papel.

Objetivos que não se medem e não se reportam, não servem para nada.

É mais do que hora de darmos um grande BASTA e exigir que os acordos além de serem cumpridos sejam informados do seu andamento. Em linguagem para seres humanos ditos comuns e que seguem assando ou sofrendo os efeitos das mudanças climáticas em suas diferentes facetas.

Mas observem, não falo de sair fazendo protestos ou levantando bandeiras. Falo de um sistemático e profissional follow up do que foi acordado. Factual e com dados concretos e públicos.

É hora de usarmos algo simples e poderoso:

Seguir e cobrar o que foi acordado, considerando que foi o de melhor conseguido para o momento.

Assim como na Apolo 13, que ao detectar um vazamento na cabine em pleno voo para pousar na Lua, chamou os cientistas em Cabo Canaveral e disse: “Houston, nós temos um problema”, me dirijo a você leitor e falo: “Nós temos um problema e uma oportunidade“.

Podemos aceitar que o destino nos levará a cozinhar em fogo brando pelos próximos anos ou acordar de nosso sono de inconsciência e passar a cobrar que no mínimo tenhamos claridade dos acordos e do que será feito.

Mas a quem cobrar? Estou fazendo e sugiro que cobrem de quem foi a COP. Colegas de profissão, instituições, empresas, etc. Se foram lá é porque acreditam que valeu usar tempo, esforço e dinheiro para contribuir para um mundo melhor. Nada mais justo que os ajudar com o nosso apoio e que sintam que valeu a pena brigar por todos nós.

Finalizando, já ouviram falar do termo “copwashing”?

É o que vai acontecer mais uma vez, se não fizermos diferente das COPs anteriores.

O papel aceita tudo e o filme já conhecemos, dessa vez com cenários diferentes, mais atores, mais discussões, mais marketing, mais glamour, mais petróleo .

Minha inquietude e provocação é sobre quem ou que instituições sejam públicas ou privadas vão dar conta de monitorar, avaliar e tornar público tudo o que foi acordado na COP28.

A meu ver, acordos sem seguimento ou cobrança farão que tenhamos uma COPWASHING.

Mas como posso estar totalmente errado, por favor deixem nos comentários a sua contribuição, indicando que instituições farão o monitoramento de tudo o que foi definido na COP28.

Para quem não tem a obrigação de saber o que é essa tal de COP segue abaixo:

A Conferência das Partes (COP – Conference of the Parties) é o órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, adotada em 1992. É uma associação de todos os países membros (ou “Partes”) signatários da Convenção, que, após sua ratificação em 1994, passaram a se reunir anualmente a partir de 1995, por um período de duas semanas, para avaliar a situação das mudanças climáticas no planeta e propor mecanismos a fim de garantir a efetividade da Convenção.

Segundo o artigo 7 da Convenção, a COP deve, entre outros, examinar as obrigações das Partes e os mecanismos institucionais estabelecidos.

Ao final de cada reunião da COP, uma série de decisões é adotada para conduzir as atividades de seus membros durante o período posterior a ela.

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1 Comentário
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