Inovações de agtechs ajudarão muito a mitigar o problema de produção de alimentos causado por impactos climáticos
A primavera mal começou no continente europeu, quando se esperam chuvas para repor a umidade do solo e recuperar os rios, e as projeções de produção de alimentos deixam muito a desejar. Um estudo com dados de satélite confirmou no início deste ano que a região sofre com uma forte seca desde 2018, e as perspectivas de melhores condições não estão se confirmando.
O aumento das temperaturas dificulta a recuperação desse déficit, deixando o continente preso em um ciclo perigoso: a água se torna cada vez mais escassa para atender as demandas da agricultura e da população mesmo nos centros urbanos.
“Alguns anos atrás, eu diria que temos água suficiente na Europa”, disse Torsten Mayer-Gürr, principal autor do estudo do satélite. “Agora parece que podemos enfrentar problemas.”
A preocupação vem sendo compartilhada há anos pela FAO, entre outras entidades que acompanham as diretrizes para o futuro da segurança alimentar. A entidade indica que dois litros de água costumam ser suficientes para beber diariamente, mas são necessários cerca de 3 mil litros para produzir as necessidades diárias de alimentos de uma pessoa. Globalmente, as águas subterrâneas fornecem cerca de 50% de toda a água potável e 43% de toda a irrigação agrícola.
A agricultura irrigada representa 20% do total de terras cultivadas, mas contribui com 40% do total de alimentos produzidos no mundo. A FAO estima que as terras irrigadas nos países em desenvolvimento aumentarão 34% até 2030, mas a quantidade de água usada pela agricultura aumentará apenas 14%, graças ao melhor gerenciamento e práticas de irrigação.
As inovações em processos de produção de alimentos no campo felizmente colaboram para que os recursos hídricos sejam melhor aproveitados, aliviando um pouco a pressão sobre os estoques de água e dando apoio às ações sustentáveis de uso do solo. A FAO disponibiliza ferramenta Aquastat para que os agricultores de todo o mundo possam planejar o melhor momento para plantio a partir das condições de umidade do solo e previsões pluviométricas. Inúmeras empresas de serviços de tecnologia oferecem igualmente soluções de monitoramento climático, irrigação e de controle de umidade de solo.
A Netafim, por exemplo, de origem israelense e presente no mundo todo, entendeu as dificuldades de plantio a partir de experiências no deserto de Israel, desde sua fundação em 1965. Conseguiu transformar áreas muito áridas em locais de produção agrícola. Hoje, combina soluções de irrigação localizada, de acordo com os perfis de cultura e solo, ajudando na redução do consumo de água, fundamental no momento de escassez e componente de redução de custos de produção.
REPOSIÇÃO HÍDRICA NOS SOLOS FICARÁ ABAIXO DAS NECESSIDADES
Em análise publicada no website Politico, que aborda temas sobre política europeia, Andrea Toreti, pesquisador senior do Joint Research Center, da Comissão Europeia, prevê que a contribuição da água de neve derretida para os reservatórios da Europa neste ano “será realmente muito menor do que o normal”. Ele enfatiza que 2023 está sendo pior do que no ano passado – e 2022 já foi o pior olhando para os últimos 10 anos. “o que teremos agora será ainda pior”, ressalta Toreti.
Neste verão, Espanha, sul de Portugal, Itália e França parecem particularmente vulneráveis, de acordo com Toreti. “Mas a Polônia e outras regiões como Bulgária, Romênia e Grécia estão mostrando condições de alerta para a seca”, disse ele. O Observatório Europeu da Seca também indica o estresse hídrico nos países nórdicos.
Brandemburgo, um ponto crítico da seca na Alemanha, experimentou chuvas acima da média nos últimos meses – e ainda assim os níveis das águas subterrâneas estão mais baixos do que no ano passado, observou Hattermann.
“Apesar de toda a chuva que tivemos, não melhorou, e sim piorou”, disse ele.
POLÍTICA DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA SE TORNA PRIORITÁRIA: RISCO DE SEGURANÇA NACIONAL
Os países europeus estão enfrentando as questões sobre como administrar a água. Definir quem tem acesso a ela, como e qual quantidade, está se tornando uma questão política em todo o continente.
No verão passado, restrições de uso de água foram impostas no Reino Unido, França, Espanha e Itália, levantando questões sobre a priorização do uso de água para infraestrutura turística, grandes instalações industriais e agricultura. Alguns municípios já enfrentam novas restrições – em outros, elas nunca foram levantadas. A Catalunha recentemente impôs limites, incluindo uma redução obrigatória de 40% no consumo de água para a agricultura.
No sul da Alemanha, as disputas legais sobre a água dobraram nas últimas duas décadas. E na França, as tensões entre ambientalistas e agricultores sobre a construção de reservatórios de água no mês passado provocaram confrontos violentos.
Os reservatórios destinam-se a ajudar os agricultores a enfrentar condições mais secas no verão, bombeando água subterrânea no inverno que pode ser usada para irrigação no verão, mas grupos ecológicos dizem que o setor deve tomar medidas para reduzir o uso de água.
Enquanto acontecem as discussões e negociações entre grupos partidários e ambientalistas nos países europeus, os produtores rurais ficam com restritas condições de se planejarem para o cultivo de alimentos. Isso impactará negativamente diversas indústrias de alimentos dependentes de trigo, azeitonas, uvas, milho, legumes e verduras. Itens importantes para compor a alimentação humana e animal.
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