Financiamento para sistemas agroalimentares têm acentuada tendência de redução

Novo relatório da FAO aponta queda nas intenções de investimentos, apesar de seu papel crítico para alcançar as metas climáticas

A transformação dos sistemas agroalimentares – uma oportunidade única para enfrentar as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a insegurança alimentar – está ameaçada pela redução de financiamento, alerta um novo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). É o que indica o novo documento publicado pela FAO.

Isso ocorre em um momento em que mais financiamento é urgentemente necessário para ajudar a alcançar as metas do Acordo de Paris e apoiar a implementação da Declaração dos Emirados Árabes Unidos sobre Agricultura Sustentável, Sistemas Alimentares Resilientes e Ação Climática, assinada por mais de 130 líderes mundiais durante a COP28.

O financiamento climático refere-se ao financiamento local, nacional ou transnacional – proveniente de fontes públicas, privadas e alternativas – que busca apoiar ações de mitigação e adaptação para enfrentar as mudanças climáticas.

Queda acentuada dos investimentos indica tendência perigosa para as metas climáticas

Entre 2000 e 2021, o apoio financeiro ao desenvolvimento relacionado ao clima para sistemas agroalimentares totalizou US$ 183 bilhões, sendo mais da metade dos recursos entregues após 2016. No entanto, em 2021, as contribuições despencaram para US$ 19 bilhões, uma queda de 12% em relação a 2020.

A região mais afetada foi a Ásia, com uma queda acentuada de -44% em comparação com 2020. África e Europa tiveram um aumento leve de 4%, enquanto a América Latina e o Caribe viram um incremento modesto de 6%.

Embora tenha havido uma tendência global geral de crescimento em termos absolutos desde 2000, dobrando de US$ 9 bilhões alocados em 2010 para US$ 19 bilhões em 2021, a taxa de crescimento do financiamento ao desenvolvimento relacionado ao clima para sistemas agroalimentares fica significativamente aquém da taxa média de crescimento de três a quatro vezes observada no financiamento ao desenvolvimento relacionado ao clima em geral.

O financiamento ao desenvolvimento relacionado ao clima destinado ao setor de transporte, por exemplo, aumentou quase quatro vezes no mesmo período.

Adoção de práticas sustentáveis no ecossistema de alimentos são essenciais para garantir metas globais

Diante do agravamento dos impactos climáticos e do lento progresso na redução das emissões de gases de efeito estufa, a adoção de práticas sustentáveis nos sistemas agroalimentares – abrangendo produção, distribuição e consumo – pode ajudar as nações a se adaptarem, construírem resiliência, reduzirem as emissões de gases de efeito estufa e garantirem a segurança alimentar, protegendo a biodiversidade.

“O potencial único dos sistemas agroalimentares para enfrentar a crise climática só pode ser realizado escalando os investimentos em soluções e ações para sistemas agroalimentares. As tendências decrescentes tanto nos investimentos em sistemas agroalimentares quanto em adaptação representam uma oportunidade perdida para equipar os agricultores ao redor do mundo com o conhecimento, as tecnologias e inovações tão necessárias para aumentar sua resiliência e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas”, afirmou Maria Helena Semedo, Diretora-Geral Adjunta da FAO.

A agricultura é um dos setores com maiores necessidades de financiamento para adaptação para implementar as Contribuições Nacionalmente Determinadas (ou planos climáticos nacionais), mas o financiamento climático para adaptação também está em tendência decrescente.

O relatório menciona que, de acordo com uma análise recente do Climate Policy Initiative, apenas 4% do financiamento climático global foi destinado a sistemas agroalimentares entre 2019 e 2020. Para transformar os sistemas agroalimentares e alcançar não apenas a ação climática, mas também todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), as nações precisariam mobilizar cerca de US$ 680 bilhões por ano até 2030.

Outras descobertas e recomendações prioritárias

Em 2021, os provedores bilaterais de recursos (entidades ou países que fornecem apoio financeiro ou recursos diretamente a outro país ou entidade) foram os principais contribuintes para o financiamento ao desenvolvimento relacionado ao clima para sistemas agroalimentares, representando 59%, enquanto os provedores multilaterais contribuíram com 35% e o setor privado com modestos 5%.

A África Subsaariana foi a principal destinatária de apoio financeiro para iniciativas relacionadas ao clima nos sistemas agroalimentares. A região garantiu significativos 53% desses fundos, principalmente de doadores bilaterais, especialmente Alemanha e União Europeia.

O relatório destaca a crescente popularidade do financiamento misto, que combina fundos públicos e privados para incentivar projetos agrícolas inteligentes para o clima, com benefícios financeiros, ambientais e sociais significativos. Ele enfatiza que abordar efetivamente as mudanças climáticas nos sistemas agroalimentares requer uma abordagem abrangente e personalizada de financiamento que esteja alinhada com as necessidades e prioridades específicas de diferentes regiões e setores.

Para alcançar isso, os autores destacam a importância de entender os instrumentos financeiros mais adequados. Indicam também a alocação apropriada de financiamento climático para diferentes setores, passo crucial para perseguir objetivos climáticos globais e responder também às necessidades e contextos locais.

A alocação estratégica de recursos em vários aspectos dos sistemas agroalimentares pode contribuir para alcançar metas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, promovendo a produção sustentável de alimentos e garantindo a segurança alimentar, argumenta o relatório.

No Futuro

Entre as iniciativas prioritárias das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), há um mecanismo financeiro destinado a ajudar os países a enfrentarem os impactos prejudiciais das mudanças climáticas em seus sistemas agroalimentares. Isso inclui apoio do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e do Fundo Verde para o Clima (GCF).

De acordo com os autores, o recente estabelecimento de um novo fundo especificamente para Perdas e Danos sinaliza um compromisso em ajudar as nações em desenvolvimento, especialmente aquelas altamente suscetíveis aos impactos das mudanças climáticas. Um relatório lançado pela FAO no início desta semana destacou que esse desenvolvimento deve indicar oportunidades crescentes para os sistemas agroalimentares enfrentarem os desafios impostos pela crise climática na agricultura e segurança alimentar.

A FAO está trabalhando para ajudar a lidar com a lacuna de financiamento por meio da Parceria de Transformação Sustentável para Alimentação e Agricultura, conhecida como Parceria FAST. Originada de uma Iniciativa da COP27, a FAST destaca a importância de esforços coletivos para melhorar a quantidade e a qualidade do financiamento climático, garantindo que os investimentos climáticos alcancem os mais vulneráveis, especialmente os agricultores familiares que frequentemente enfrentam os impactos das mudanças climáticas.

A reunião inaugural da Parceria FAST ocorreu hoje em uma Mesa Redonda da Presidência no dia temático sobre Alimentação, Agricultura e Água na COP28, contando com a participação de Ministros e Representantes de Alto Nível de países membros e organizações da Parceria FAST.

A FAO facilitará a Parceria FAST por meio de uma Força-Tarefa que atuará como Secretariado em sua sede em Roma, apoiando suas atividades.

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