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Mais uma relevante entidade internacional, a British Nutrition Foundation, questiona o conceito de alimentos ultraprocessados preocupada com a garantia da segurança alimentar, destacando o fato de não haver lógica na classificação NOVA, que introduziu o termo. O posicionamento ocorreu há um mês através de um position statement, documento aparentemente simples, mas baseado em 83 referências bibliográficas.

Fruto do trabalho de cientistas experientes dedicados à área da nutrição, o objetivo dos chamados position statements é apresentar perspectivas técnicas e científicas sobre temas relacionados à alimentação e à nutrição de forma a nortear pesquisadores, agências reguladoras, gestores públicos e profissionais da saúde e da indústria de alimentos e até mesmo a mídia.

British Nutrition Foundation publica esse tipo de documento periodicamente sob revisão de um comitê científico multidisciplinar, sendo um terço composto por profissionais sem vínculo financeiro ou comercial com a indústria de alimentos. Atualmente são membros 30 especialistas com diferentes capacidades, habilidades e experiências, oriundos de diversos setores, incluindo representantes de instituições acadêmicas e científicas, públicas e privadas.

Dividido em três blocos, o position statement The concept of ultra-processed foods (UFP) começa ressaltando que o Reino Unido, país em que a British Nutrition Foundation está sediada, não possui o termo “alimentos ultraprocessados” oficializado em legislação nem o referencia para recomendações de dietas e políticas públicas, diferente de vários países.

Assim como nos posicionamentos que tenho abordado em artigos anteriores, a classificação NOVA é considerada vaga pelos especialistas britânicos por se limitar a questões de saúde sem levar em consideração o básico da ciência e tecnologia de forma que a grande maioria dos produtos alimentícios se enquadra como “alimento ultraprocessado”. Assim, num segundo bloco, destacam os pontos principais relacionados a esse conceito em todo o mundo.

O fato inegável pontuado é que dietas altamente calóricas, escassas de nutrientes e com grande ingestão de gordura saturada, açúcar e sódio trazem malefícios à saúde, enquanto são benéficas as dietas ricas em fibras, vitaminas e minerais, baseadas em alimentos nutritivos como frutas, verduras, peixes, grãos, nozes, sementes e produtos lácteos. Portanto há um consenso em relação à composição de dietas consideradas saudáveis e não saudáveis, o que não acontece em relação a sistemas de classificação de alimentos baseados em grau de processamento.

A partir dessa introdução, o primeiro tópico de atenção detalhado refere-se às várias pesquisas que relacionam o consumo de alimentos ultraprocessados a condições adversas como obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, pois quase todas se limitam a estudos de observação, sem estrutura que demonstre a relação entre causa e efeito.

Num segundo momento, afirma que a classificação NOVA desconsidera o fato de que o processamento melhora a segurança dos alimentos e amplia sua vida útil, o que está alinhado à demanda da sociedade em alimentar toda a população. Além disso, lembra que, ao adotar a classificação, mais da metade dos produtos alimentícios consumidos no Reino Unido não deveria ser ingerida por serem “ultraprocessados”, ou seja, se não forem consumidos os britânicos ficariam desnutridos.

Outro tópico destacado é que tamanha rigidez em uma classificação, como ocorre com a NOVA, desencoraja a indústria a reformular seus produtos, pois continuarão sendo classificados como “ultraprocessados” mesmo sendo feitas uma série de melhorias nutricionais e tecnológicas, o que só é possível através de investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação.

No terceiro e último bloco, é ressaltada a preocupação de parte da sociedade com a alimentação embasada em grau de processamento, motivada por uma classificação ambígua e genérica, enquanto deveria estar atenta a aspectos nutricionais. A partir da pergunta “O ‘ultraprocessamento’ tem um papel no sistema moderno de alimentação?”, reforça que são vários os exemplos de alimentos fortificados e plant-based considerados “ultraprocessados”, cuja ausência no mercado resultaria em problemas na ingestão de nutrientes essenciais suficientes pela população. Para evitar esse cenário extremo e negativo, encoraja novas pesquisas científicas ligadas ao tema devidamente embasadas.

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4 Comentários
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