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Mesmo não sendo embasada em ciência e tecnologia de alimentos industrializados, a classificação NOVA, que surgiu na segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira, é amplamente difundida e adotada. A vilanização dos alimentos “ultraprocessados” decorrente da criação desse conceito equivocado tem sido combatida não só por pesquisadores de C&T, como o corpo técnico do ITAL – Instituto de Tecnologia de Alimentos/Apta/Secretaria de Agricultura e Abastecimento, como também por renomados nutricionistas como Laura Thomas.

Doutora em Nutrição registrada na Association for Nutrition, especialista em Comer Intuitivo, HAES (Health at Every Size) e Não-Dieta, Laura publicou em abril artigo dividido em três partes intitulado “A verdade sobre alimentos ultraprocessados”, iniciativa que considera ser uma conversa diferenciada sobre alimentos ultraprocessados abrangendo a classificação NOVA, a evidência científica e os consumidores desses produtos alimentícios.

A importância dos alimentos industrializados

Motivada por uma série de conversas com pacientes aterrorizados, colegas de profissão agitados e pais preocupados com seus filhos, os tópicos que abordou no artigo chamaram tanta atenção do público que resultou maior número de inscritos interessados em outros conteúdos do Can I Have Another Snack?, canal que abrange newsletters e podcasts. Tal posicionamento da nutricionista tem peso importante no debate sobre a importância dos alimentos industrializados justamente pela experiência de quase uma década atendendo pessoas com dificuldades em se alimentar sem culpa.

Na primeira parte do artigo, Laura frisa que a categorização definida pela NOVA possui ambiguidades, chegando a ser subjetiva, o que causa confusão gigantesca, desinformação e propagação do medo, pois esse grupo como um todo, que representa cerca de 56,8% da dieta dos britânicos, tem sido associado a doenças como o câncer e o aumento do risco de morte prematura.

Em relação à crítica aos aditivos alimentares como prejudiciais à saúde, a nutricionista lembra que todos são aprovados por órgão regulador considerando limite diário aceitável de ingestão. De forma complementar, a European Food Safety Authority (EFSA) passou a reavaliar aqueles aprovados antes de 2009 para confirmar o atendimento a modernos padrões toxicológicos e, se necessário, garantir a adequação, não tendo sido encontradas atividades carcinogênicas e genotóxicas.

Outro ponto destacado pela especialista é a importância do processamento para a qualidade e a segurança dos alimentos, citando como exemplos a redução do risco de contaminação e o retardamento da oxidação de óleos, aumentando a vida de prateleira dos produtos. Segundo Laura, pesquisadores apontam, inclusive, que a exclusão dos alimentos industrializados na dieta pode levar à deficiência de nutrientes essenciais para o bom funcionamento do organismo, quadro ainda mais preocupante em grupos de riscos.

Na segunda parte do artigo, a nutricionista pontua, a partir de meta-análise realizada em 2021, que não há associação substancial dos alimentos “ultraprocessados” com maior risco de diabetes e doenças cardiovasculares, lembrando também que maioria dos estudos sobre “ultraprocessados” são observacionais, assim não pode ser deduzida a relação causa e efeito que tanto ganha as manchetes na mídia.

A falta de embasamento na alegação de que esses alimentos são produzidos de forma que se tornem irresistíveis é mais um tópico citado pela nutricionista com base em pesquisa do National Institutes of Health (NIH) feita com pessoas que foram alimentadas por duas semanas com “ultraprocessados” e por igual período com alimentos que não se enquadram nessa categoria: a avaliação delas é que a palatabilidade dos “ultraprocessados” é similar à do outro grupo de alimentos.

Já na última parte do artigo a especialista entra no mérito da sustentabilidade e do equilíbrio do sistema alimentar, ponto bastante criticado quando se trata da indústria de alimentos. Referenciando estudo publicado na Science, pondera que pouco mais de um quarto da emissão global de gases de efeito estufa advém da produção de alimentos, sendo que apenas 18% do total de emissões do sistema alimentar têm alguma relação com alimentos “ultraprocessados” – processamento de alimentos (4%), transporte (6%), embalagem (5%) e varejo (3%).

Dentro dessa temática, uma série de estudos australianos feitos entre 2016 e 2017 também é destacada antes de encerrar o artigo. Neles, os alimentos industrializados e “ultraprocessados” foram apontados como responsáveis por 26% a 35% da emissão de gases de efeito estufa, sendo que a porcentagem cai para 7% a 18% se excluídos produtos cárneos, tacos e pizza.

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3 Comentários
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