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Por Luis Madi

Comumente associada a enfermidades como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer, a obesidade é uma grande preocupação na saúde pública e, assim como o sobrepeso, está cada vez mais presente na população de diversos países, inclusive no Brasil. Com o intuito de melhor compreender a origem desse sério problema, equipe técnica da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP) se dedicou a analisar minuciosamente dados da Pesquisa Nacional da Saúde e da Pesquisa de Orçamentos Familiares, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), chegando à constatação de que fatores como faixa etária, renda e sedentarismo têm maior influência na prevalência da obesidade, e não os alimentos industrializados.

Coordenado pelo pesquisador Marcio Holland para embasar a criação de políticas públicas mundiais em saúde mais efetivas no combate ao excesso de peso da população, o estudo recém-divulgado possui uma abordagem multidimensional inédita que permitiu confirmar a pouca influência do consumo de determinados produtos alimentícios na obesidade, diferente do senso comum fortemente influenciado por ativistas contrários aos alimentos industrializados.

O relatório Obesidade e consumo das famílias brasileiras: diagnóstico e implicações para políticas públicas vai ao encontro do que o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) tem disseminado desde 2015 com base em conhecimento técnico-científico em oposição ao radicalismo e à falta de análise adequada dos alimentos, em especial os classificados equivocadamente como “ultraprocessados”.

A inadequação esteve presente inclusive em publicações da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS). Em 2016, o termo foi facilmente aceito e disseminado através do sumário executivo Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional, partindo do pressuposto que qualquer alimento é de baixo valor nutricional. No ano anterior, outra publicação destacava negativamente alimentos e bebidas “ultraprocessadas”, relacionando-os à obesidade e recomendando maior taxação e até mesmo proibição do consumo para o público infantojuvenil.

Na mesma época, no entanto, o médico e cientista Dráuzio Varella, como colunista da Folha de S.Paulo, já abordava a responsabilidade coletiva pela obesidade, além de pontuar que a medicina se restringe apenas a indicação de dieta e cirurgias bariátricas para casos extremos, não havendo, portanto, um tratamento efetivo, ficando “cada um por si”.

Em paralelo a certo tom alarmista desqualificando os alimentos mais consumidos pela população é fato que a expectativa de vida aumentou nos últimos 50 anos, conforme destacou Holland ao comentar o relatório da FGV EESP que motivou este artigo. Para o pesquisador, não só houve melhoria na alimentação como no acesso aos serviços de saúde e à água potável, resultando em pessoas mais fortes e volumosas.

Tal evolução não ocorreu, no entanto, em indicadores de obesidade. Cabe lembrar que o Índice de Massa Corporal (IMC), método recomendado pela OMS para diagnosticar o estado nutricional do indivíduo por ser não-invasivo e de baixo custo, considera obeso quem tem 30 quilos ou mais por metro quadrado. Considerando o diagnóstico em questão, mais da metade da população brasileira está obesa ou com sobrepeso, segundo a Pesquisa Nacional da Saúde.

O dado isolado é preocupante, contudo o cruzamento com dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, através de análises estatísticas, permitiu que a equipe técnica da FGV EESP identificasse diferença significativa entre os lares de pessoas obesas e os de pessoas magras somente em relação à frequência na prática de atividades físicas, não havendo diferença relevante quanto à alimentação.

Considerando que o brasileiro se exercita, em média, uma vez por semana, e fica em frente à tela cerca de três horas por dia, vale leigos e especialistas se debruçarem de maneira menos extrema sobre a questão: somente os alimentos industrializados levam à obesidade e ao sobrepeso?

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