Como a Coreia do Sul lidera a reciclagem de resíduos alimentares com tecnologia e políticas públicas
A reciclagem de resíduos alimentares na Coreia do Sul é um exemplo global de eficiência: o país recicla 97% do lixo orgânico, transformando-o em energia, fertilizantes e ração animal. Enquanto isso, o Brasil desperdiça 27 milhões de toneladas de alimentos por ano, segundo a Embrapa (2023).
Em relatório, o WEF – Fórum Econômico Mundial identificou a redução do desperdício de alimentos em até 20 milhões de toneladas como uma das 12 medidas que podem ajudar a transformar os sistemas alimentares globais até 2030.
O modelo sul-coreano, implantado ao longo de décadas, envolve regulações rígidas, tecnologia inteligente e incentivos econômicos para minimizar o desperdício. Enquanto isso, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos nesse setor, abrindo espaço para discutir soluções inspiradas em países que avançaram nessa área.
A comparação entre os dois países revela oportunidades para adaptar soluções coreanas ao contexto brasileiro, como sistemas de cobrança por peso e incentivos à compostagem urbana.
Os pilares da reciclagem de resíduos alimentares na Coreia do Sul
Desde 2005, a Coreia do Sul proibiu o descarte de resíduos alimentares em aterros sanitários e, em 2013, implantou um sistema obrigatório de reciclagem com sacolas biodegradáveis. Os moradores pagam cerca de US$ 6 por mês pelas sacolas, o que cobre 60% dos custos operacionais do programa e incentiva a composteira doméstica.
Um dos principais diferenciais da abordagem sul-coreana é o uso de tecnologia avançada. Em Seul, cerca de 6.000 lixeiras automatizadas utilizam RFID para pesar os resíduos e cobrar os cidadãos por meio de seus cartões de identificação. Esse modelo “pague conforme recicla” resultou na significativa redução do volume de resíduos alimentares.

Os resíduos alimentares recolhidos são desidratados para reduzir peso e custo de transporte, e o material resultante é reaproveitado para a produção de biogás, bioóleo e fertilizantes. O apoio governamental também impulsiona a agricultura urbana, incentivando o uso do fertilizante orgânico produzido para cultivar alimentos em hortas comunitárias. Empresas que doam alimentos para bancos comunitários recebem incentivos fiscais.
Oportunidades de negócios sustentáveis
- O mercado de reciclagem de alimentos movimentou US$ 1,2 bilhão em 2022, com crescimento anual de 8% (Statista, 2023).
- A redução de resíduos evitou a emissão de 4,2 milhões de toneladas de CO₂ em 2022, equivalente a retirar 900.000 carros das ruas.
E no Brasil?
Apesar dos esforços para reduzir o desperdício de alimentos, o Brasil ainda descarta cerca de 27 mil toneladas de comida por dia, segundo a FAO. Iniciativas promovidas pelo Governo Federal e a recente expansão de startups voltadas à economia circular têm surgido para combater esse problema, mas ainda falta infraestrutura para reciclagem massiva.
Algumas cidades brasileiras já experimentam programas de compostagem e incentivo à separação de resíduos orgânicos. Em São Paulo, por exemplo, a Prefeitura implementou o Composta Sampa, que estimula a reciclagem de orgânicos em residências e escolas. Entretanto, ainda não há um sistema estruturado de cobrança ou incentivos financeiros claros para reduzir o desperdício.
O que o Brasil pode aprender?
- Regulação Específica: Criar políticas públicas que incentivem a reciclagem de alimentos e restrinjam o descarte em aterros.
- Uso de Tecnologia: Implementar lixeiras automatizadas com pesagem e cobrança diferenciada, como na Coreia do Sul.
- Educação e Incentivos: Engajar a população em programas de separação de resíduos, garantindo vantagens econômicas para quem recicla corretamente.
- Reaproveitamento Sustentável: Expandir o uso de resíduos orgânicos na produção de biogás, bioóleo e fertilizantes para a agricultura.
O exemplo da Coreia do Sul mostra que, com um sistema bem planejado, é possível transformar o desperdício alimentar em recursos valiosos, promovendo sustentação econômica e ambiental. O Brasil tem potencial para seguir esse caminho, mas precisa acelerar a implantação de soluções eficazes.
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