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Por Paulo Pianez*

A rastreabilidade desponta, no século XXI, como um dos principais vetores para garantir segurança e tA rastreabilidade desponta, no século XXI, como um dos principais vetores para garantir segurança e transparência na cadeia produtiva alimentar. No entanto, sua função vai além disso. Ela se transforma em uma ferramenta estratégica para impulsionar a sustentabilidade, fortalecer a economia e abrir novas oportunidades de mercado. No Brasil, a rastreabilidade tem o potencial de reposicionar o país como líder global em produção sustentável e de alta qualidade.

Rastreabilidade é, por definição, a capacidade de acompanhar o percurso de um produto em todas as fases de sua cadeia produtiva. Tradicionalmente, ela era associada à segurança alimentar, garantindo que o consumidor possa conhecer a origem dos alimentos. No entanto, a rastreabilidade deve se expandir e integrar aspectos socioambientais mais profundos. Ela pode e deve ser utilizada como um instrumento de transformação da cadeia produtiva, garantindo que práticas sustentáveis sejam adotadas de ponta a ponta, promovendo a transparência e permitindo o monitoramento de fatores como emissões de carbono, conservação, uso de recursos naturais e condições de trabalho.

No cenário atual, a rastreabilidade não se limita a mitigar riscos, mas é uma oportunidade para agregar valor à produção brasileira, diferenciando-a no mercado internacional. Ao garantir que os produtos agropecuários e os grãos que alimentam os animais sejam provenientes de processos sustentáveis, o Brasil tem a chance de acessar mercados premium, que pagam mais por produtos rastreados e que atendem a rigorosos padrões socioambientais.

Países como Uruguai e Austrália já implementaram sistemas de rastreabilidade 100% eficazes, monitorando cada animal em seus rebanhos. Essas nações vêm colhendo os frutos desse investimento ao expandirem sua presença nos mercados internacionais. O Brasil, por meio do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (SISBOV) iniciou seus esforços nesse campo em 2002, principalmente para atender às exigências da União Europeia. Entretanto, o desafio agora é desenvolver e expandir um sistema de rastreabilidade nacional para que contemple, além da saúde dos animais, aspectos como a conformidade socioambiental de toda a cadeia de produção.

Ao integrar essas dimensões socioambientais, o Brasil não apenas fortaleceria sua reputação global, mas também abriria novas frentes econômicas, além de atender requerimentos de novas regulações que vem sendo implementadas globalmente, a exemplo da EUDR (European Union Deforestation Regulation) na União Europeia que deve entrar em vigor no próximo ano. O monitoramento de práticas responsáveis, como a não utilização de áreas desmatadas ilegalmente e o respeito às leis trabalhistas, agregaria valor à carne, aos grãos e a outros produtos do agronegócio. Isso ajudaria o país a se destacar em um momento em que os consumidores e governos internacionais exigem cada vez mais transparência e sustentabilidade.

Para os produtores, a implementação de um sistema robusto de rastreabilidade socioambiental não seria apenas uma exigência, mas uma oportunidade. A adoção de práticas transparentes e sustentáveis permite que esses produtores acessem mercados internacionais que têm uma remuneração melhor para produtos certificados e rastreados. Esses mercados exigem uma produção que respeite o meio ambiente, que tenha práticas de bem-estar animal e que não utilize mão de obra em condições análogas à escravidão. Ao garantir que esses critérios sejam atendidos, os produtores brasileiros podem se diferenciar da concorrência, principalmente em mercados como a Europa e a Ásia, onde a importância da rastreabilidade tem crescido substancialmente.

Além disso, frigoríficos e indústrias alimentícias também saem ganhando. Ao processar produtos que seguem padrões rigorosos de rastreabilidade, essas empresas podem garantir aos seus clientes que os alimentos oferecidos são não apenas seguros, mas também éticos e sustentáveis. Isso cria um ciclo virtuoso de benefícios, em que a valorização de toda a cadeia produtiva permite que o Brasil aumente sua participação em mercados que pagam mais por produtos com qualidade garantida.

O agronegócio é indiscutivelmente relevante para a economia brasileira, representando 47,8% das vendas externas totais do Brasil no período de janeiro a março de 2024, somando US$ 37,44 bilhões, recorde para o período, com participação expressiva de carne bovina e grãos, produtos que apresentam a maior demanda por rastreabilidade no mercado global.

Nesse contexto, o Brasil tem a chance de se reposicionar no cenário mundial ao implementar um sistema de rastreabilidade robusto, podendo expandir ainda mais sua participação nos mercados globais, transformando-se em um modelo de produção responsável e alinhada às demandas do século XXI. Assim, a rastreabilidade se torna não apenas um diferencial competitivo, mas um motor de inovação e transformação econômica.

Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade Marfrig BRF

* Paulo Pianez é diretor de sustentabilidade da Marfrig e da BRF


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