Por Gustavo Diniz Junqueira*
A logística de alimentos frescos destinados a grandes centros urbanos como São Paulo e muitas outras cidades do país envolve desafios complexos que abrangem segurança alimentar, qualidade, agilidade, flexibilidade e gestão de custos. O Brasil, em particular, sofre com perdas significativas devido à falta de uma cadeia de frio eficiente. Os entrepostos logísticos localizados nos arredores dos centros urbanos são ótimas soluções para o problema.
Um estudo da Embrapa revelou que cerca de 40 mil toneladas de alimentos são desperdiçadas diariamente no país, o que poderia alimentar 19 milhões de pessoas. Aproximadamente 50% desse desperdício ocorre durante o manuseio e transporte, demonstrando a urgente necessidade de investimentos em infraestrutura logística, especialmente no transporte refrigerado para produtos perecíveis como frutas e hortaliças.
A qualidade dos alimentos também é afetada pela falta de uma logística eficiente. Produtos mal armazenados ou transportados sem refrigeração adequada perdem parte de sua vida útil, o que não só diminui a lucratividade dos fornecedores, como aumenta o desperdício de alimentos. Estima-se que 30% dos alimentos produzidos globalmente são desperdiçados, o que contribui para aproximadamente 8 a 10% das emissões globais de gases de efeito estufa.
No Brasil, essa realidade se agrava, já que as maiores perdas ocorrem durante o transporte e no armazenamento.
Modernas estruturas de entrepostos logísticos para alimentos colaboram para garantir sustentabilidade
A criação de entrepostos logísticos fora do perímetro urbano, baseados em um modelo de gestão circular, poderia transformar essa realidade. Esses hubs não apenas melhorariam a qualidade dos produtos ao garantir um controle rigoroso da cadeia de frio, mas também aumentariam a lucratividade dos pequenos produtores ao minimizar perdas.
Adicionalmente, esses centros poderiam reaproveitar resíduos e subprodutos para a geração de energia ou fertilizantes, maximizando o uso de recursos e minimizando impactos ambientais. A eficiência desses hubs se estenderia ao consumo de energia, com o uso de fontes renováveis como energia solar e até mesmo geotérmica, como já adotado em outros países.
Exemplos internacionais provam o sucesso do modelo do modelo de entrepostos
Exemplos internacionais demonstram a eficácia desses modelos. O Rungis, nos arredores de Paris, é o maior entreposto de alimentos frescos do mundo e opera sob um rigoroso modelo sustentável que inclui o tratamento de águas residuais e a compostagem de resíduos. O Mercamadrid, na Espanha, além de utilizar painéis solares, redistribui alimentos excedentes para bancos de alimentos, reduzindo perdas e impactos sociais.
Essas práticas não só contribuem para a sustentabilidade, mas também criam uma infraestrutura resiliente que beneficia toda a cadeia de abastecimento. No Brasil, uma adaptação desses modelos traria ganhos econômicos, ambientais e sociais, ajudando a modernizar a logística de alimentos frescos.
Benefícios tangíveis dos entrepostos fora dos centros urbanos nacionais
A implementação de uma rede de entrepostos ao redor de São Paulo, por exemplo, trará benefícios diretos e tangíveis. A redução de emissões de CO₂ seria um dos principais ganhos, uma vez que milhares de caminhões pesados deixariam de circular no centro urbano. Esse alívio no trânsito também geraria benefícios secundários, como a melhoria da qualidade do ar e a diminuição de congestionamentos, que afetam diretamente a qualidade de vida da população.
Além disso, esses hubs criariam oportunidades de emprego para as comunidades locais, demandando mão de obra especializada e fornecedores de serviços logísticos e técnicos. A geração de empregos, por sua vez, estimularia o desenvolvimento econômico dessas regiões, criando uma dinâmica de prosperidade nas áreas ao redor desses centros de distribuição.
Outro aspecto importante a ser considerado é a capacidade desses entrepostos de utilizar tecnologias de rastreamento de alimentos, o que garantiria mais transparência e eficiência em toda a cadeia de suprimentos.
O Brasil, com sua vasta produção agrícola e diversidade regional, tem a chance de se tornar um exemplo global ao adotar práticas inovadoras baseadas no conceito de investimento sistêmico. A implementação de uma rede de entrepostos modernos e sustentáveis não só resolveria os problemas de perdas e desperdícios, como também ajudaria o país a se posicionar de maneira competitiva no cenário global, beneficiando produtores, comerciantes e consumidores.
O futuro da logística de alimentos no Brasil depende da capacidade de adaptação e inovação, e esses entrepostos são o caminho para transformar desafios em oportunidades, alinhando-se às tendências globais de investimento sistêmico.
Gustavo Diniz Junqueira é empresário e foi secretário de agricultura no Estado de São Paulo.
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