A citricultura brasileira alcançou um marco importante com a estimativa do valor do carbono gerado na produção de laranjas. Pela primeira vez, pesquisadores calcularam que a tonelada de gás carbônico equivalente (tCO2e) vale cerca de US$ 7,72.
Este cálculo foi apresentado pela Embrapa Territorial durante o 62º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober). A estimativa serve como uma referência significativa para o mercado voluntário de carbono e para iniciativas de sustentabilidade na agricultura.
Qual é o papel do carbono na agricultura?
O gás carbônico (CO2) é o principal gás de efeito estufa (GEE) emitido na atmosfera desde o início da industrialização e tem sido amplamente utilizado como um indicador ambiental.
A precificação do carbono na agricultura, especialmente na citricultura, não apenas ajuda a medir o impacto ambiental, mas também cria um incentivo financeiro para que os produtores adotem práticas agrícolas mais sustentáveis.
Essas práticas incluem a melhoria na adubação para reduzir a emissão de outros GEE, como o óxido nitroso, um gás com um potencial de aquecimento global ainda maior que o CO2.
Como foi calculado o valor do carbono na citricultura brasileira?
Os cálculos para a citricultura brasileira foram baseados em uma série de dados socioeconômicos e ambientais, incluindo o Produto Interno Bruto (PIB) municipal, as emissões per capita de CO2, a área dos municípios e a preservação da vegetação nativa.
Além disso, para estimar o valor do carbono, a Embrapa analisou 297 municípios do cinturão citrícola, que abrange o estado de São Paulo e o sudoeste/Triângulo Mineiro. Essas regiões são essenciais para a produção de laranjas no Brasil, representando uma parte significativa da produção nacional.
A precificação foi feita combinando dois principais conjuntos de determinantes: o “custo social do carbono”, que atribui valor monetário às consequências ambientais e sociais das emissões de GEE, e o “custo marginal de abatimento”, que inclui o custo tecnológico da redução dessas emissões. O valor estimado de US$ 7,72 por tCO2e reflete os custos de mitigação das emissões, e também o potencial de geração de receitas para os produtores que adotam práticas mais sustentáveis.
Carbono e biodiversidade na citricultura
Além de contribuir para a mitigação das mudanças climáticas, a citricultura brasileira desempenha um papel importante na conservação da biodiversidade. O estudo da Embrapa e do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) revelou que os pomares de citros no Brasil estocam cerca de duas toneladas de carbono por hectare anualmente, o que equivale a 7,32 tCO2. Esse sequestro de carbono é fundamental para reduzir a quantidade de CO2 na atmosfera, contribuindo para o combate ao aquecimento global.
O projeto também identificou uma rica biodiversidade no cinturão citrícola brasileiro, com 314 espécies de animais silvestres, incluindo aves, mamíferos e répteis. Espécies emblemáticas como a onça-parda, a jaguatirica e o lobo-guará foram registrados, destacando a importância de práticas agrícolas que promovam a conservação da fauna local.
Qual a importância da citricultura brasileira no mercado global?
A citricultura é um dos pilares do agronegócio brasileiro, com o país sendo o maior produtor mundial de suco de laranja. O Brasil é responsável por 35% da produção global de laranja e por 75% do comércio internacional de suco de laranja. Na última safra, a produção nacional alcançou 307,22 milhões de caixas, com a exportação do suco superando 2,8 milhões de toneladas. Esses números refletem a importância econômica da citricultura para o Brasil, que movimenta aproximadamente US$ 14 bilhões por ano.
O cinturão citrícola, que compreende 463 mil hectares de pomares, é a principal região produtora do país e concentra as principais indústrias processadoras de suco e subprodutos. A introdução da precificação do carbono nesse setor pode agregar ainda mais valor ao suco de laranja brasileiro no mercado internacional, onde a demanda por produtos sustentáveis está em crescimento.
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