SOFA, novo relatório da FAO, indica que descobrir o verdadeiro custo dos alimentos é o primeiro passo para tornar os sistemas agroalimentares mais inclusivos, resilientes e sustentáveis.
O relatório “The State of Food and Agriculture 2024 – SOFA”, divulgado pela FAO, oferece uma análise abrangente dos custos ocultos dos sistemas agroalimentares em nível global, estimados em mais de 11 trilhões de dólares (em paridade de poder de compra de 2020).
Esses custos incluem fatores invisíveis nas transações de mercado, como os impactos de saúde pública, ambientais e sociais. Esses custos são especialmente expressivos nos sistemas agroalimentares industrializados, onde as dietas desequilibradas e o uso intensivo de recursos estão entre os principais contribuintes.
Com base em dados detalhados de 156 países, o relatório apresenta uma tipologia inovadora de sistemas agroalimentares, categorizando-os de acordo com seu nível de desenvolvimento e os desafios específicos enfrentados em cada contexto. Dessa forma, as recomendações para transformar esses sistemas são adaptadas às particularidades de cada categoria, considerando as necessidades locais de políticas de saúde, apoio social e práticas agrícolas sustentáveis.
Para promover mudanças, a FAO enfatiza a importância da contabilidade de custo real (True Cost Accounting – TCA) e do engajamento dos consumidores, pequenos produtores e agronegócios. Esses elementos são fundamentais para construir sistemas agroalimentares mais resilientes e saudáveis, capazes de contribuir para uma melhor qualidade de vida e para a preservação do meio ambiente. Abaixo, apresentamos os principais achados e recomendações do relatório.
Principais descobertas do relatório
- Custos ocultos significativos
Os sistemas agroalimentares globais geram custos ocultos expressivos, estimados em 11 trilhões de dólares, dos quais aproximadamente 70% são relacionados à saúde. Esse montante reflete os impactos das dietas desequilibradas, que contribuem para a obesidade, doenças cardiovasculares e outras doenças não transmissíveis (DNTs). Os fatores de risco mais recorrentes incluem o baixo consumo de grãos integrais, o excesso de sódio e a baixa ingestão de frutas, aspectos que se destacam em sistemas agroalimentares diversificados e industrializados.
Esses custos ocultos de saúde refletem mudanças nos padrões alimentares ao redor do mundo. À medida que os sistemas agroalimentares se tornam mais industrializados, o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e ricos em sódio e açúcares gera preocupações para a saúde pública. Além disso, a falta de alimentos frescos e integrais contribui para o agravamento dos problemas de saúde, especialmente em regiões com dietas altamente industrializadas.
Para enfrentar esses desafios, o relatório recomenda políticas que incentivem o consumo de alimentos mais saudáveis e menos processados. Essas medidas podem ajudar a reduzir significativamente os custos de saúde ocultos e promover um impacto positivo na saúde pública global. Estima-se que melhorar o equilíbrio alimentar pode prevenir uma parcela significativa dos custos ocultos globais relacionados a doenças crônicas e outros problemas de saúde.
- Tipologia dos sistemas agroalimentares
O relatório classifica os sistemas agroalimentares em seis categorias: crise prolongada, tradicional, em expansão, diversificando, formalizando e industrial. Cada uma dessas categorias enfrenta desafios distintos e demanda políticas e intervenções específicas para promover uma transformação sustentável e inclusiva. Os sistemas em crise prolongada, por exemplo, são caracterizados por altos custos sociais e ambientais, resultantes de conflitos, falta de infraestrutura e baixa eficiência produtiva.
Nos sistemas agroalimentares tradicionais, os desafios incluem a escassez de recursos e a falta de acesso a mercados modernos, o que limita a capacidade de gerar renda e acesso a alimentos saudáveis. Já os sistemas agroalimentares em expansão e diversificação estão em um ponto de transição, buscando modernizar-se, mas ainda enfrentam desafios de saúde e sociais, como o aumento das doenças não transmissíveis e a insegurança alimentar.
Os sistemas formalizados e industrializados, por outro lado, possuem maior capacidade institucional e infraestrutura, mas enfrentam os desafios de lidar com dietas desequilibradas e a crescente demanda por produtos ultraprocessados. Nesse contexto, é essencial adotar políticas específicas para cada tipo de sistema, adaptando as soluções às condições e necessidades locais para maximizar o impacto e a eficiência das intervenções.
- Ações transformadoras baseadas em tipologia
Para sistemas em crise prolongada, as recomendações enfatizam a criação de redes de apoio social e a implementação de políticas de resiliência. Essas medidas são essenciais para mitigar os custos sociais elevados e proporcionar uma base para que esses sistemas possam evoluir. O apoio governamental e a ajuda internacional também desempenham papéis cruciais, fornecendo os recursos necessários para fortalecer esses sistemas e aliviar as pressões sobre a população vulnerável.
Nos sistemas tradicionais, a inclusão social e o apoio a pequenos produtores são fundamentais para reduzir os custos ocultos sociais e promover uma transformação sustentável. Isso envolve incentivar práticas agrícolas sustentáveis, melhorar o acesso a mercados e apoiar iniciativas de cooperação entre produtores. Com o aumento da renda e da produtividade, espera-se que esses sistemas possam progredir para estágios mais avançados de desenvolvimento, reduzindo a insegurança alimentar e aumentando o acesso a alimentos nutritivos.
Para os sistemas diversificados e formalizados, as recomendações destacam a necessidade de promover dietas mais saudáveis e equilibradas, além de implementar políticas de proteção social. Essas ações são especialmente importantes em países que enfrentam altas taxas de doenças crônicas devido ao consumo excessivo de alimentos processados e ricos em sódio e açúcares. Para os sistemas industrializados, as políticas devem focar na redução de sódio, carnes processadas e açúcares, promovendo hábitos alimentares saudáveis e investimentos em práticas agrícolas mais sustentáveis.
Resumo das principais recomendações para melhorar os sistemas agroalimentares
Sistema Agroalimentar | Desafios Principais | Recomendações |
---|---|---|
Crise Prolongada | Custos sociais e ambientais elevados | Políticas de apoio social e incentivo à resiliência |
Tradicional | Alto custo social | Inclusão social e apoio a pequenos produtores |
Em Expansão | Custo de saúde e malnutrição | Acesso a dietas nutritivas e redução de alimentos ultraprocessados |
Diversificando | Alto custo de saúde | Promoção de dietas saudáveis e políticas de proteção social |
Formalizando | Custos de saúde e ambientais | Incentivos a práticas sustentáveis e dietas equilibradas |
Industrial | Alto custo de saúde | Redução de sódio, carnes processadas e estímulo a hábitos saudáveis |
Confira a íntegra do relatório SOFA:
SOFA-FAO-2024Leia também:
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