Governança e resiliência são apontadas como alavancas essenciais para transformação dos sistemas alimentares
Um estudo inédito publicado na revista Nature Food, intitulado “Governança e resiliência como pontos de entrada para transformar os sistemas alimentares na contagem regressiva para 2030”, oferece a primeira análise abrangente das mudanças nos principais indicadores de sistemas alimentares desde 2000.
Segundo Lawrence Haddad, diretor executivo da GAIN (Global Alliance for Improved Nutrition), o relatório revela avanços encorajadores, mas também retrocessos preocupantes, destacando a necessidade urgente de acelerar a transformação dos sistemas alimentares. “As compensações entre objetivos como empregos, clima, nutrição, segurança alimentar e resiliência são inevitáveis. No entanto, com uma governança mais forte e melhores dados, essas compensações podem ser mitigadas e até convertidas em sinergias”, afirma Haddad.
Principais conclusões
O estudo, conduzido pela Food Systems Countdown Initiative (FSCI), uma colaboração entre a Universidade Columbia, Universidade Cornell, FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e GAIN, monitorou 50 indicadores de sistemas alimentares globalmente, organizados em cinco temas:
- Dietas, nutrição e saúde
- Meio ambiente, recursos naturais e produção
- Meios de subsistência, pobreza e equidade
- Resiliência
- Governança
Destaques do estudo
. Progresso encorajador em resiliência e nutrição
De 42 indicadores analisados ao longo do tempo, 20 mostraram melhorias, incluindo o aumento do acesso à água potável segura e da disponibilidade de vegetais.
Além disso, a conservação de recursos genéticos vegetais e animais aumentou, fortalecendo a resiliência dos sistemas alimentares frente às mudanças climáticas.
. Preocupações emergentes: volatilidade de preços e queda na responsabilidade governamental
Sete indicadores apresentaram declínio significativo, incluindo a crescente volatilidade dos preços dos alimentos, o enfraquecimento da responsabilidade governamental e a menor participação da sociedade civil. Esses desafios destacam a dificuldade de manter a estabilidade e coerência política em meio a crises globais.
. Interações complexas entre indicadores
Mudanças em uma área, como governança ou qualidade da dieta, afetam outras dimensões do sistema alimentar. Estudos de caso na Etópia, México e Países Baixos ilustram a relevância local dessas interações.
Um chamado à ação
Mario Herrero, diretor do Programa de Sistemas Alimentares & Mudança Global da Universidade Cornell, enfatiza que “o relatório esclarece como diferentes áreas dos sistemas alimentares estão interligadas, sendo crucial para maximizar sinergias, gerenciar compensacões e evitar consequências indesejadas”.
Jessica Fanzo, diretora da Food for Humanity Initiative, destaca a necessidade urgente de uma reforma abrangente nos sistemas alimentares para enfrentar os desafios atuais, como doenças relacionadas à dieta, subnutrição e mudanças climáticas. “Somente podemos gerir aquilo que conseguimos medir”, afirma Fanzo.
José Rosero Moncayo, estatístico-chefe da FAO, aponta que o relatório oferece um roteiro claro para a formulação de políticas baseadas em evidências, ressaltando a necessidade de intensificar esforços nos próximos cinco anos para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).