Por Luis Madi
Um novo sistema de rotulagem nutricional está sendo estruturado no Estados Unidos para a maioria dos alimentos embalados diante da crise nacional de doenças não transmissíveis (DNTs), que incluem hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e cânceres.
A proposta de rotulagem nutricional frontal (conhecida como FOP, front-of-pack), publicada em 16 de janeiro no Federal Register pela Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA), tem como foco a redução da quantidade de pessoas com doenças decorrentes de dietas desequilibradas, estando alinhada à estratégia da Casa Branca em relação a fome, nutrição e saúde (White House National Strategy on Hunger Nutrition and Health), que tem dentre seus objetivos aumentar a alimentação saudável e as atividades físicas até 2030.
Essa preocupação se justifica num cenário em que, segundo o documento, um a cada dez estadunidenses é diabético, sendo 90% a 95% do tipo 2; ao menos um em cada três tem câncer ao longo da vida, e quase metade dos adultos têm pressão alta, associada a causas de morte por doença cardíaca e AVC.
A FDA lembra que essas DNTs podem ser consequência também de fatores genéticos, biológicos, comportamentais, socioeconômicos e ambientais, ponderando, no entanto, que padrões de dieta não saudáveis aumentam os riscos, sendo desproporcional em determinadas classes econômicas e populações étnicas e raciais.
Para atenuar esse último fator, ressalta a necessidade de consumir o mínimo possível de gordura saturada, sódio e açúcares adicionados, uma das diversas recomendações do guia alimentar dos EUA em vigor (Dietary Guidelines for Americans 2020-2025).
Pela proposta da FDA, a maioria dos alimentos embalados devem conter um box na parte frontal do rótulo destacando de forma rápida e compreensível para qualquer consumidor informações nutricionais específicas sobre porcentagem de gordura saturada, sódio e açúcares adicionados por porção considerando o valor diário recomendado acompanhadas das escritas Low (se menor que 5%), Med (de 5% a 20%) e High (se maior que 20%).
Vale ressaltar aqui a diferença da proposta apresentada pela FDA, que contextualiza esses nutrientes dentro das necessidades de uma dieta para orientar a decisão do consumidor, versus o modelo estabelecido pela maioria dos países latino-americanos, que destaca a expressão “alto em” sem uma orientação adequada.
Para chegar à sua proposta, a FDA se embasou em revisão de literatura científica, testes com grupos focais e estudo experimental revisado por pares explorando a resposta de quase 10 mil consumidores adultos dos EUA a três tipos de rotulagem nutricional frontal, identificando qual modelo permitiu avaliações mais rápidas e precisas em relação à saudabilidade dos produtos alimentícios.
Em paralelo, outro estudo foi desenvolvido de 4 e 27 de outubro de 2023 pelo International Food Information Council (IFIC) em parceria com a Greenwald Research através de questionário on-line respondido por três mil adultos dos EUA de até 80 anos de idade visando compreender a influência de diferentes rótulos nutricionais nas suas decisões alimentares.
Apesar de reconhecer que as condições de reação dos consumidores seriam diferentes no mundo real, em que não haveria uma atenção exclusiva e focada na avaliação dos rótulos, o IFIC considera que seu estudo representa a voz do consumidor que costuma faltar nos debates ligados ao sistema alimentar, contribuindo assim para melhores ações de profissionais da indústria, especialistas em rotulagem, executores de políticas públicas, cientistas sociais e demais interessados, que podem enviar sugestões à proposta da FDA até 15 de julho.
Enquanto não é aprovada a proposta final a ser adotada pelos EUA, que deverá ser implantada pelas indústrias de alimentos em até três a quatro anos, estimulo uma reflexão: não saímos todos ganhando ao fazer prevalecer a ciência?
Luis Madi é Coordenador da Plataforma de Inovação Tecnológica do ITAL e colunista do Food Forum News