Em um cenário onde o desperdício de alimentos representa uma das principais barreiras para a segurança alimentar, Leonardo Lima, CEO da Dreams and Purpose Consulting, lançou recentemente duas guias: “Redução da Perda e Desperdício de Alimentos” e “Doação Segura de Alimentos”.
Em entrevista ao Food Forum News, ele compartilha reflexões sobre o papel das empresas e indivíduos no combate ao desperdício, a urgência de mudanças estruturais e a importância de estratégias que priorizem o bem-estar coletivo.
Além de abordar o impacto do Dia Mundial da Alimentação, Leonardo explora soluções práticas e o potencial das novas tecnologias para um futuro mais sustentável e equitativo na cadeia de alimentos.
Bate-papo com Leonardo Lima: Dia Mundial da Alimentação e mais!
Confira abaixo!
Você vem dedicando quase toda a sua vida ao setor de alimentação, como vê o Dia Mundial da Alimentação?
Como tudo na vida podemos considerar que o copo está meio cheio ou meio vazio. Prefiro ver pelo lado otimista no sentido que observo maior consciência de que não podemos falar de alimentação sem pensar que milhões passam fome todos os dias.
Vejo que mais pessoas com poder de câmbios, se veem impactadas por números que são totalmente não éticos e que estão buscando soluções compartilhadas para alimentar a quem passa fome.
Então diria que todos os que estão no setor de alimentação tem uma dívida com os que não comem, não sabem se terminarão o dia saciando sua necessidade vital. Ainda pelo lado positivo, é impossível negar os espetaculares avanços em produtividade, novas tecnologias e novos produtos. Necessitaremos produzir mais com menos, como nunca temos experimentado.
Pelo copo meio cheio, ainda temos muito que fazer com as perdas e desperdícios de alimentos. A perda de 1.3 bilhões de toneladas todos os anos é número que cada vez mais sabemos de cor o que é um verdadeiro absurdo.
Como você vê a necessidade de produzir mais em um mundo que necessita manter a sua biodiversidade, como no nosso caso a Floresta Amazônica?
Parafraseando Jason Clay do WWF, a produção de alimentos é uma das maiores senão a maior ameaça a biodiversidade do planeta. Necessitaremos produzir muito mais comida do que já produzimos antes para alimentar aos 11 bilhões de habitantes que teremos no planeta em 2100.
Portanto, se seguirmos o paradigma de produção atual, claramente veremos áreas de preservação mais ameaçadas do que vemos hoje.
Urge que tenhamos maiores níveis de produtividade e novas tecnologias. Necessitamos reeducarmos ou aprender por primeira vez a ter dietas sustentáveis. Significa que temos que nos manter vivos, mas igualmente manter o planeta saudável e vivo como o conhecemos.
Hábitos alimentares necessitarão ser revistos, mas não será tarefa fácil. Populações que finalmente ingressam em uma classe econômica com poder aquisitivo para comprar proteínas derivadas de animais, possivelmente não vão querer abrir mão desse direto em prol da diminuição da pressão de supressão da biodiversidade ou redução dos gases de efeito estufa.
Teremos por um lado um mundo que avançará para dietas menos danosas ao meio ambiente em geral e um outro mundo emergente seja na Asia ou no Hemisfério Sul que optará pelo seu direito a uma dieta que nunca teve acesso. Desse balanço resultará o mundo que viveremos.
Precisamos produzir mais, mas perdemos anualmente 1/3 do que produzimos. Essa equação não fecha. Alguma ideia de como resolver esta equação?
Não posso me atrever a apresentar uma solução para um problema que o mundo vem enfrentando há anos, mas posso me atrever a provocar que nos indignemos com essa situação. Em uma era onde a IA vem fazendo parecermos dinossauros em função de sua velocidade de aprendizado e solução de problemas, não é possível que estejamos tão atrasados nesse problema.
Para mim, trata-se claramente de colocar prioridade nesse assunto, reunir esforços e estabelecer metas com bônus e penalidades. Países como a Coreia do Sul por exemplo, reduziram drasticamente suas perdas de alimentos, colocando pesadas multas para quem joga fora alimentos.
O assunto perdas de alimentos necessita ser um livro aberto a todos e quem produz, transporta, armazena, produz e vende alimentos deveria informar suas perdas e receber prêmios ou punições. Necessitamos tratar os alimentos como um item que envolve muitos recursos e que não deveria jamais ser levado a um aterro sanitário.
Para as empresas de alimentos digo que todas deveriam para poder operar, assinar um compromisso de perdas zero e prestarem contas dos seus resíduos. Necessitamos urgentemente mudar nossa relação com os alimentos. Não podemos pretender mudanças se agimos como sempre fizemos.
Para fechar, a Dreams and Purpose Consulting produziu duas Guias relacionadas a esse assunto. Poderia nos contar um pouco sobre elas?
Com muito prazer. Graças ao apoio do Instituto Food Service Brasil que abraçou a ideia, produzimos a Guia para Redução da Perda e Desperdício de Alimentos e a Guia para a Doação Segura de Alimentos.
A primeira trás todas as indicações referencias possíveis e imaginarias para quem quiser zerar suas perdas, atingir esse objetivo. Sim é possível chegar muito próximo de zero em perdas. As dicas e exemplos estão descritas na Guia. Mas como comentei anteriormente, o ponto chave e principal parte da liderança da organização. Ela deve assinar uma política de Perda Zero. Essa sinalização é uma mudança de paradigma fundamental para o sucesso do programa.
Com essa Guia o meu objetivo foi o de acabar com as desculpas de que não é possível chegar à perda zero. É possível sim e sabemos como fazê-lo.
Na segunda Guia, deixamos como um plano de contingência para quando a organização tem um produto apto a consumo e que por alguma razão não será comercializado. Nesse caso a doação é o caminho saudável a ser realizado.
A doação de alimento não somente é permitida como incentivada pela ANVISA, órgão responsável por sua fiscalização e que garante a qualidade e inocuidade dos alimentos bem como de todos que estão nesse processo. As duas Guias estão disponíveis no site do IFB e podem ser baixadas gratuitamente. Significa que fazendo de forma diferente, sim, podemos esperar resultados diferentes dos que estamos obtendo até agora.
Deixo o desafio para que provoquem suas organizações a sair da inercia e mudar números altamente indesejáveis para todos, em especial para o que tem fome.
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