Robôs de ordenha e softwares de gestão garantem decisões estratégicas e maior controle e qualidade na produção do leite bovino
A automatização tem remodelado o setor leiteiro, permitindo que fazendas adotem práticas mais eficientes e embasadas em dados. Equipamentos como robôs de ordenha e softwares de gestão trouxeram à pecuária leiteira a possibilidade de monitorar o rebanho em tempo real, identificando oportunidades de melhorias na produção de leite e problemas antes que se tornem críticos.
Um exemplo dessa transformação está na história de superação e inovação da Cabanha DS, localizada em Vila Lângaro, no Rio Grande do Sul. Após enfrentar dificuldades que quase resultaram no encerramento da atividade leiteira, a propriedade retomou a produção há pouco mais de um ano, agora focada em um modelo de gestão automatizado.
Adoção de tecnologia motivou novo impulso nos negócios
A fazenda é administrada pela família Secco. Em processo de sucessão familiar, o grupo apostou na modernização como caminho para superar os desafios e tornar o negócio sustentável e competitivo. Com robôs de ordenha da Lely e o software de gestão Horizon, a fazenda alcançou um nível inédito de precisão e eficiência.
Atualmente, cada vaca produz, em média, 48 litros de leite por dia. Essa performance é monitorada detalhadamente por meio de dados coletados automaticamente durante a ordenha e enviados para análise no sistema.
“Após implantarmos a automação, nossa abordagem mudou completamente. Agora tomamos decisões com base em informações confiáveis e atualizadas, o que nos permite agir rapidamente em situações críticas e planejar o futuro com maior segurança”, explica o médico-veterinário e gerente de Qualidade da Cabanha DS, Gustavo Moretti Secco.
Na prática: a transformação da rotina na gestão leiteira
A coleta e análise de dados tornaram-se parte fundamental da rotina da fazenda. Sensores instalados nos robôs e colares utilizados pelos animais oferecem informações detalhadas sobre produção de leite, ruminação, atividades físicas e até parâmetros de saúde, como temperatura corporal. Esses dados são reunidos no Horizon, que centraliza todas as informações e as organiza em relatórios e alertas.
“No pré-parto, conseguimos acompanhar a ingestão alimentar da vaca, a ruminação e a atividade dela. Isso nos ajuda a identificar qualquer alteração antes mesmo do parto acontecer. Se houver alguma queda nesses indicadores, já podemos agir preventivamente, ajustando o manejo ou a nutrição para evitar problemas no parto ou no início da lactação”, explica Secco.
O gerente de Qualidade também ressalta o monitoramento dos animais recém-paridos como uma vantagem na identificação ágil de qualquer desvio na saúde ou na produção de leite. “O software nos alerta se a ruminação estiver baixa ou se houver alteração na condutividade do leite, que pode indicar um problema metabólico ou uma infecção inicial”, complementa.
O período de secagem na rotina da fazenda também recebe os benefícios desse tipo de coleta de dados. Com essas informações, é possível identificar o momento ideal para interromper a lactação sem comprometer a saúde do animal, conforme pontua Secco: “O sistema nos fornece uma projeção da produção de leite e analisa outros fatores, como a saúde da glândula mamária, para indicar se a vaca está pronta para esse processo”.
Solução tecnológica projeta produtividade e potenciais problemas de saúde do rebanho
O sistema também projeta tendências e fornece insights estratégicos, como a identificação de vacas com maior potencial produtivo; ou riscos iminentes, como problemas de saúde e quedas na lactação. “O Horizon é como um guia. Ele indica os problemas, mas também sugere ações para solucioná-los de forma eficiente”, destaca a FMS (Farm Management Support) no Lelycenter Milkparts-RS, Cristiana Baruel Terra.
Ela ressalta que um dos grandes diferenciais do sistema Horizon é a capacidade de antecipar problemas antes que eles se tornem visíveis no rebanho. “Com os sensores instalados nos robôs e nos colares das vacas, conseguimos identificar alterações no comportamento ou na saúde de um animal até 48 horas antes de ele apresentar sintomas clínicos. Isso permite que intervenções sejam realizadas de maneira muito mais eficaz e rápida, reduzindo os impactos na produção e no bem-estar do rebanho”, explica.
Além disso, o software oferece uma visão completa da fazenda, permitindo que os produtores otimizem cada etapa do processo produtivo. “O Horizon integra todos os dados coletados, o que facilita a análise e a tomada de decisões estratégicas. Desde ajustes na nutrição até o manejo reprodutivo, o sistema oferece recomendações que ajudam a melhorar os índices da propriedade e a tornar o trabalho mais assertivo”, acrescenta Cristiana.
Bem-estar animal: um pilar para a sustentabilidade da produção de leite
A modernização na produção leiteira não se resume apenas à automação. O bem-estar animal tem se mostrado um componente essencial para a sustentabilidade e a eficiência das fazendas. Animais bem tratados apresentam desempenho superior, com maior produção e qualidade de leite. Além disso, práticas de manejo responsáveis reduzem o estresse e a incidência de doenças no rebanho.
De acordo com o artigo “Bem-Estar Animal: Um Pilar para a Sustentabilidade do Setor Leiteiro no Brasil”, publicado pelo programa Certified Humane Brasil, “animais bem tratados têm um desempenho superior, com maior produção e qualidade de leite. Além disso, práticas de manejo responsáveis reduzem o estresse e a incidência de doenças no rebanho”.
A adoção de práticas que promovem o bem-estar animal, como instalações adequadas, alimentação balanceada e monitoramento constante da saúde, contribui para a longevidade e produtividade dos animais. Essas medidas, aliadas à tecnologia, potencializam os resultados das propriedades leiteiras.
Saúde e consumo de leite e derivados
O consumo de leite e seus derivados tem sido objeto de diversos estudos que apontam benefícios para a saúde humana. Pesquisas indicam que a ingestão regular desses alimentos está associada à redução do risco de doenças cardiovasculares, hipertensão e diabetes.
Um estudo conduzido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) demonstrou que o consumo de leite superior a 260 ml por dia está associado a uma diminuição de até 66% no risco de morte por doenças cardiovasculares. Segundo a pesquisa, “os resultados mostram que o consumo de leite superior a 260 ml para homens e 321 ml para mulheres diminui em até 66% o risco de morte por doenças cardiovasculares”.
Além disso, o leite é uma fonte rica de cálcio, essencial para a saúde óssea, e contém proteínas de alta qualidade que auxiliam na manutenção e ganho de massa muscular. Estudos também sugerem que o consumo de laticínios fermentados, como iogurtes, pode contribuir para a saúde intestinal devido à presença de probióticos.
Um futuro moldado pela tecnologia e pelo bem-estar animal
Com o foco em um modelo produtivo de alta eficiência, a Cabanha DS também utiliza os dados para planejar a longo prazo. “Os dados nos ajudam a ajustar a dieta das vacas, otimizar a reprodução e avaliar a viabilidade de investimentos futuros.
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