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Ao longo dos últimos dez anos, a Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, destacou-se como um dos mais eficientes ecossistemas para retirada de carbono entre as florestas secas do planeta.

Novos resultados de pesquisas indicam que a nossa caatinga consegue somar muito no sequestro de carbono da atmosfera, com índices ainda superiores a muitos outros ecossistemas nacionais e internacionais. Isso comprova o enorme potencial do Brasil para obter benefícios com o crédito de carbono.

Desta vez, de acordo com dados do Observatório Nacional da Dinâmica da Água e do Carbono no Bioma Caatinga (OndaCBC), o bioma conseguiu retirar, em média, 5,2 toneladas de carbono por hectare ao ano da atmosfera, o que equivale a 527 gramas por metro quadrado.

Este feito a posiciona como um dos ecossistemas mais eficientes no uso de carbono, superando inclusive florestas tropicais como a Amazônia em algumas métricas.

Comparativo global e eficiência no uso de carbono

A pesquisa liderada pelo OndaCBC comparou a Caatinga com outras 30 regiões secas ao redor do mundo, incluindo áreas nos Estados Unidos, Canadá, México, Espanha, Austrália e a região africana do Sahel. O resultado mostrou que a Caatinga se destaca por sua elevada eficiência no uso de carbono, superando até mesmo florestas localizadas no Peru e em ecossistemas subpolares semiáridos na Rússia.

Segundo o professor Bergson Bezerra, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e líder da rede de torres de fluxo do OndaCBC, a máxima eficiência de captura de carbono registrada foi de 548 gramas por metro quadrado, atingida em uma floresta no Peru. “Os demais valores são inferiores a esse; inclusive houve áreas que se comportaram como fontes de CO2. Portanto, a Caatinga está seguramente entre os maiores sumidouros entre as florestas secas do mundo”, afirmou Bezerra.

Impacto das chuvas nas trocas de carbono

Os estudos demonstram que o principal fator que influencia as trocas de carbono na Caatinga é a chuva. Mesmo em pequenas quantidades, a precipitação estimula o crescimento vegetal, aumentando a capacidade do bioma de absorver CO2 da atmosfera.

Ao contrário de outros biomas, onde fatores como temperatura e radiação desempenham papéis mais relevantes, na Caatinga, a umidade gerada pelas chuvas se mostra fundamental para seu funcionamento como sumidouro de carbono.

A rede de torres de fluxo e a coleta de dados

Torres de controle na Caatinga

Desde 2010, o Observatório OndaCBC realiza a coleta de dados em torres micrometeorológicas, conhecidas como torres de fluxo, localizadas em municípios de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Essas torres monitoram variáveis meteorológicas como chuva, radiação solar, temperatura, umidade relativa, vento e pressão do ar, além de medições das concentrações de vapor d’água e dióxido de carbono. A torre mais antiga e completa está instalada na Embrapa Semiárido, em Petrolina (PE), monitorando uma área de Caatinga nativa há mais de 13 anos.

A pesquisadora Magna Soelma Beserra de Moura, da Embrapa, destaca que a rede de torres é fundamental para gerar dados consistentes sobre o papel da Caatinga na absorção de carbono. “Com este trabalho em rede, estamos obtendo fortes evidências de que esse bioma é um sumidouro altamente eficiente, que contribui significativamente para a absorção de CO2 atmosférico, ajudando a retardar a taxa de crescimento da concentração desse gás, um dos principais causadores do efeito estufa”, afirmou Moura.

Caatinga como fonte de bioeconomia e serviços socioambientais

Além do papel de sumidouro de carbono, a Caatinga oferece diversos serviços socioambientais essenciais, como regulação do clima, controle de erosão, polinização e controle de pragas. O bioma ocupa cerca de 11% do território brasileiro, em uma área de aproximadamente 850 mil quilômetros quadrados, e é reconhecido por sua rica biodiversidade adaptada às condições semiáridas.

O pesquisador Aldrin Perez Marin, do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), destacou o potencial socioeconômico do bioma. “A Caatinga representa uma importante fonte de recursos para as comunidades locais por meio do aproveitamento de frutos nativos, plantas ornamentais e fitoterápicos. O bioma também possui grande potencial para programas de crédito de carbono, o que pode gerar benefícios econômicos, ambientais e sociais”, ressaltou Marin.

Oportunidades para políticas públicas e manejo sustentável

Os resultados do estudo reforçam a necessidade de políticas públicas voltadas para a conservação e preservação da Caatinga. Programas de neutralização da degradação do solo, recuperação de áreas degradadas e manejo sustentável podem ser viabilizados a partir das evidências científicas de que a Caatinga é um dos biomas mais eficientes na absorção de carbono.

“As pesquisas em andamento podem subsidiar a implementação de programas de crédito de carbono na região, gerando novas oportunidades para comunidades locais. Além disso, o manejo sustentável da Caatinga pode contribuir para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, protegendo um ecossistema vital que muitas vezes é negligenciado”, concluiu Marin.

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