Entenda como o café alia prazer no consumo, protege o cérebro e promove saúde cardiovascular, revelam especialistas
Neste 24 de maio, Dia Nacional do Café, celebramos não apenas a bebida mais amada pelos brasileiros, mas também seus impactos positivos na saúde e na economia. Pesquisas recentes apontam que o consumo moderado de café pode proteger o cérebro de doenças neurodegenerativas e promover efeitos cardiovasculares favoráveis.
Com o Brasil sendo o segundo maior consumidor global e um dos principais produtores, entender esses benefícios se torna ainda mais relevante. Além disso, o país vive um momento de transformação no setor, com o crescimento de cafés especiais e iniciativas que unem tradição e inovação, como as rotas turísticas cafeeiras.
Café e saúde: como a bebida pode proteger o cérebro e o coração
Um estudo publicado na revista Alzheimer’s & Dementia em 2021 acompanhou 263 idosos por cinco anos e revelou que aqueles que consumiam menos de 200 mg de cafeína diárias (equivalente a duas xícaras) tinham o dobro de risco de desenvolver Alzheimer.
A neurologista Dra. Viviane Felici, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, explica que a cafeína bloqueia a adenosina, substância ligada ao cansaço, e estimula a liberação de dopamina, melhorando humor e cognição. Além disso, antioxidantes presentes no café, como os polifenóis, combatem radicais livres associados ao envelhecimento celular.
“Há evidências de que o consumo regular de café reduz o acúmulo de β-amiloide no cérebro, marcador do Alzheimer. Mas os efeitos variam conforme genética e idade. Para idosos, recomendo evitar o consumo após as 15h para não interferir no sono”, complementa a médica.
No campo cardiovascular, o Prof. Dr. Álvaro Avezum, cardiologista do mesmo hospital, destaca que até três xícaras diárias reduzem em 21% o risco de AVC e 17% a mortalidade cardiovascular. Porém, ele alerta:
“Pacientes com arritmias ou hipertensão devem moderar a ingestão. A cafeína em excesso pode elevar a pressão arterial em pessoas sensíveis.”
Além dos benefícios neurológicos e cardíacos, pesquisas sugerem que o café pode reduzir o risco de diabetes tipo 2 e depressão. Um relatório da Organização Internacional do Café (OIC) de 2024 aponta que o consumo diário de 3 a 4 xícaras está associado a uma redução de 25% no risco de desenvolver diabetes, graças a compostos como o ácido clorogênico, que regula a absorção de glicose.
Consumo e produção: Brasil no topo do ranking cafeeiro
Segundo a ABIC, cada brasileiro consome em média 6,26 kg de café cru por ano (1.430 xícaras), totalizando 40,4% da safra nacional entre 2023 e 2024. O país também é o maior exportador mundial, com 37,7 milhões de sacas vendidas para mais de 120 países no último ano.
São Paulo, terceiro maior produtor de arábica do mundo, gerou 307 mil toneladas em 2023, movimentando R$ 7,2 bilhões. A capital paulista lidera o consumo, com 25 milhões de xícaras diárias, enquanto o interior do estado se destaca por cafeterias premiadas, como o Cupping Café, eleito um dos melhores do planeta.
A cadeia produtiva do café emprega mais de 8 milhões de pessoas no Brasil, desde o cultivo até o varejo. Dados do Ministério da Agricultura mostram que 70% da produção nacional vem de pequenos produtores, muitos deles em transição para modelos sustentáveis.
Em Minas Gerais, maior estado produtor, cooperativas como a Capricórnio investem em certificações orgânicas e fair trade, garantindo preços justos e reduzindo o uso de defensivos agrícolas.
“O café sustentável não é apenas uma tendência, mas uma necessidade. Consumidores globais exigem rastreabilidade e práticas éticas”, afirma Breno Mesquita, da CNA.
Café tradicional, superior ou gourmet: qual a diferença e vale mais ser comprado?
Quantas vezes vi pessoas à frente das gôndolas dos supermercados tentando escolher um pacote de café. De um modo geral, primeira dúvida vem sempre vinculada ao preço do café: o “normal” atualmente são os pacotes de cafés tradicionais, de marcas conhecidas, na faixa de R$ 30 a R$ 40 reais.
Aqui entra a jogada de marketing das empresas: os cafés tradicionais ocupam grande espaços estratégicos das prateleiras e acabam sendo mais chamativos. “Vamos levar esse mesmo”, uma frase fácil de ser pronunciada pelos consumidores conformados com as opções.
No entanto, em posições menos privilegiadas nas prateleiras e em sortimento bem reduzido, estão os cafés marcados como Superior, com preços próximos aos tradicionais ou por vezes até mais baratos. E são, de longe, muito melhores do que os tradicionais.
Explicando as diferenças:
A Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC) analisa os cafés tradicionais, extrafortes e superiores com uma equipe de provadores treinados que levam em consideração vários aspectos como aroma, acidez, fragrância e amargor. Ao final, a categoria do café é definida a partir da nota de Qualidade Global (QG), que vai de 0 a 10. Enquanto as outras avaliações levam em consideração a qualidade dos grãos, a avaliação da ABIC leva em consideração o produto que chega até o consumidor.
Café tradicional e extraforte
- Tem uma nota de QG da ABIC entre 4,5 e 5,9. É feito com grãos de café das variedades arábica e robusta, apresentam notas amargas e produção tem foco em volume. A seleção dos grãos de café verde admite impurezas próprias dos grãos, e nem sempre segue um bom padrão de sabor e aroma. Os grãos são sempre bem torrados, comprometendo a qualidade final da bebida.
- Marcas Pilão, Santa Clara, Café do Ponto, União, Melitta, 3Corações.
- Preço médio: R$ 60 a 80 por quilo.
Café superior e gourmet
- Arábica com pontuação ABIC igual ou maior que 6,0 até 7,2. Fechando a escala de classificação mais alta está o Café Gourmet, que pontua a partir de 7,3 até 10. Já a SCA – Specialty Coffee Association define estas opções quando estão abaixo de 80 na escala, mas com seleção cuidadosa.
- Marcas mais fáceis de achar nos supermercados: Aviação, Moraes, Moka, Evolutto.
- Preço: R$ 70 a 80/kg.
Café especial
- Arábica com mais de 80 pontos, processos artesanais e perfil sensorial único.
- Marcas: Orfeu, 3Corações, Baggio.
- Preço: acima de R$ 100/kg.
Os cafés em cápsulas são exceções a essas classificações. São produzidos com uma grande variedade de tipos de grãos arábica, conillon ou robusta, e de várias procedências. As cápsulas são muito práticas e convenientes para consumo, mas o valor por quilo de produto é bem alto comparado aos em grãos e ao torrado e moído para uso com filtros e cafeteiras.
Breno Mesquita, da CNA, ressalta:
“O segredo está na colheita e no processamento. Cafés especiais exigem cuidado extremo, do campo à xícara. Cada etapa, da secagem à torra, é monitorada para preservar notas de frutas vermelhas, chocolate ou até florais.”
Enquanto o tradicional domina 65% do mercado brasileiro, o especial avança 12% ao ano, impulsionado por jovens consumidores dispostos a pagar até R$ 25 por uma xícara em cafeterias como a Coffee Lab, em São Paulo.
Cápsulas avançam no mercado mundial com inovações em sabores
O mercado de cafés em cápsulas mantém expressão no mercado, atraindo novos consumidores que buscam experiências gustativas e sensoriais e praticidade. Muito se deve aos investimentos das indústrias em buscar novos blends, suportados por ótimas campanhas publicitárias para a promoção dos produtos.
A Nespresso apresenta uma nova fase marcada por inovações que unem tradição e modernidade no universo dos cafés em cápsulas. A marca lançou nesta semana a campanha Iconic Taste, que repagina clássicos como Arpeggio, Volluto e Ristretto em versões descafeinadas, sem perder o sabor e a intensidade originais.
O processo de descafeinação 100% natural preserva o perfil sensorial dos cafés e inclui novidades como o aromatizado Sweet Vanilla Decaffeinato, o primeiro da linha permanente.
Além dos cafés, a sofisticação se estende ao design com acessórios exclusivos em tom roxo e uma nova versão da máquina Pixie. Tudo em edição limitada.
A marca também evolui seu programa de assinatura, que agora reconhece todos os membros como “Ambassadors”, oferecendo uma série de benefícios exclusivos, como descontos, brindes e experiências personalizadas. A flexibilidade para escolher entre mais de 70 cápsulas e a frequência de entrega reforça o compromisso da Nespresso com conveniência e inovação.
“Iconic Taste celebra grandes clássicos da marca e a inovação que faz parte do DNA de Nespresso. Isso se apresenta nas versões descafeinadas desses cafés icônicos, respondendo a uma demanda crescente de nossos consumidores, e sempre mantendo a qualidade e o sabor inconfundível do nosso café”, afirma Marina Novelleto, Gerente de Marketing B2C da Nespresso Brasil.
Essas iniciativas de inovações ajudam a elevar cada xícara a um novo patamar de sofisticação e experiência.
A origem dos cafés importa
A diferenciação também está na origem. Cafés da Mantiqueira de Minas, por exemplo, são conhecidos por acidez cítrica e corpo sedoso, enquanto os do Cerrado Mineiro destacam-se por doçura intensa.
Já o robusta, base do café solúvel e de blends para espresso, ganhou versões premium no Espírito Santo, com notas amendoadas e menor amargor. A Nestlé lançou em 2024 uma linha de Nescafé usando somente a variedade conillon / robusta.
“O Brasil tem 14 regiões geográficas protegidas para café. Isso garante autenticidade e agrega valor”, explica André Henning, da Go Coffee.
Cientes dessas diferenças regionais, governos criam as rotas cafeeiras. A de São Paulo, por exemplo, prevê impulsionar o turismo e economia em torno da atividade cafeeira.
O projeto “Rotas do Café de SP”, lançado pelo governo estadual, integra 57 atrativos em 25 cidades, incluindo fazendas históricas, museus e cafeterias premiadas. A iniciativa, que já gerou 12 mil empregos no cultivo, visa movimentar R$ 500 milhões em infraestrutura e consolidar o estado como destino global. Entre os destaques está a Fazenda Santa Maria, em Campinas, onde visitantes participam da colheita manual e aprendem sobre secagem em terreiros suspensos.
Além de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo também investem em turismo cafeeiro. Na Rota da Canastra, turistas degustam queijos artesanais harmonizados com café especial, enquanto no Caparaó Capixaba, trilhas ecológicas levam a plantações em altitude.
“Essas experiências geram renda extra para produtores e resgatam a história do café, que moldou a cultura brasileira”, afirma Roberto de Lucena, secretário de Turismo de SP.
Para 2025, a expectativa é que o setor receba 500 mil turistas, incluindo estrangeiros da Europa e EUA. Parcerias com agências de viagem já oferecem pacotes com hospedagem em fazendas centenárias e workshops de barista.
“O café virou estilo de vida. As pessoas querem conhecer a origem e a história por trás da xícara”, celebra André Henning, cuja rede Go Coffee planeja abrir 20 unidades em rotas turísticas até 2026.
Neste Dia Nacional do Café, a bebida se consagra como símbolo de saúde, cultura e desenvolvimento econômico, provando que cada gole carrega um legado de sabor e inovação. Dos grãos colhidos nas serras às xícaras servidas nas metrópoles, o café continua a unir tradição e modernidade, fortalecendo o Brasil como potência global do setor.
E reforço a dica: olhe as prateleiras de cafés com mais carinho para achar os cafés marcados como Superior para o seu consumo diário. Garanto que a experiência é muito positiva e os preços são muito próximos aos dos cafés tradicionais.