belem do pará, sede da COP30
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A proposta: criação de um sistema de ratings de sustentabilidade como regra consolidada para o jogo social, político e econômico

Por Gustavo Diniz Junqueira

Estamos no início de mais um novo ano e já partimos aquecidos com as atenções e estratégias de ONGs, empresas e governos, de todo o mundo, visando apresentar os projetos e as conquistas a serem levadas à cidade de Belém do Pará, no coração da Amazônia. A cidade se transformará em palco de um encontro que transcende a simples diplomacia climática. A COP30, que acontecerá de 10 a 21 de novembro de 2025, não é apenas mais uma conferência sobre mudanças climáticas, e sim um convite ousado à humanidade para redefinir suas prioridades e abrir caminho para um novo tempo. Uma oportunidade rara de fazermos o que sempre fizemos nos momentos decisivos da história: adaptar as nossas regras, moldar o futuro e criar um sistema capaz de gerar valor para todos.

Foi há 10 anos, durante uma palestra em Paris na COP21, que introduzi pela primeira vez a ideia de um sistema global baseado em ratings de sustentabilidade. A ideia nascia de uma constatação simples, mas poderosa: se conseguimos medir e classificar o risco financeiro de empresas e países, por que não fazer o mesmo com a sustentabilidade? Por que não criar um sistema que premie as melhores práticas, abra mercados para os mais eficientes e estabeleça um padrão global que beneficie a humanidade inteira? Naquela época, era um conceito inovador. Hoje, diante da urgência que se impõe, ele é uma necessidade.

Ao longo da história, os grandes momentos de evolução foram acompanhados de novas formas de organização e cooperação. O Império Romano estabeleceu sistemas que integraram vastas regiões sob um conjunto de leis que garantiram estabilidade e expansão. A Revolução Industrial transformou o mundo ao inventar novas formas de produção e relações econômicas. Sempre que uma crise ameaçou nossa continuidade, a humanidade respondeu com a mesma capacidade singular de adaptar-se e inovar. Hoje, não é diferente: precisamos de uma nova estrutura que, em vez de dividir, integre. Em vez de fechar mercados, amplie oportunidades. E em vez de proteger o que já está estabelecido, impulsione aqueles que geram valor para o planeta inteiro.

A proposta é clara: transformar os sistemas de comércio mundial, com suas barreiras e taxações, em um modelo que privilegie o resultado global. Imagine um mundo em que a eficiência, a inovação e a sustentabilidade sejam as métricas definitivas de sucesso. Se uma empresa brasileira, por exemplo, é a mais eficiente e sustentável na produção de carne, ela não deveria enfrentar barreiras comerciais. O mesmo valeria para uma fabricante de aviões que lidera em emissões reduzidas por unidade transportada, para um produtor de soja que combina alta produtividade com conservação de solos, ou para uma empresa de tecnologia que fabrica computadores com cadeias de suprimento transparentes e materiais recicláveis. Essas empresas, de qualquer setor, seriam as primeiras escolhas em um sistema que valoriza as melhores respostas para problemas globais. Na sequência, viriam aquelas com ratings um pouco menores, mas que também contribuem positivamente para a solução.

Um sistema de ratings de sustentabilidade é o mecanismo que viabiliza essa nova realidade. Inspirado nas classificações de risco financeiras, ele avaliaria países e empresas com base em critérios objetivos: eficiência na emissão de gases, conservação de recursos naturais, inovações tecnológicas e a capacidade de gerar valor compartilhado para o planeta. As melhores pontuações – o rating AAA – representariam acesso irrestrito e preferência nos mercados globais, criando um ciclo virtuoso em que o progresso econômico e a responsabilidade planetária se reforçam mutuamente.

Mas este não é apenas um jogo econômico. É uma revolução filosófica e política, que propõe abandonar a lógica ultrapassada de “cada um por si”. A ideia não é proteger mercados locais, mas premiar aqueles que fazem o melhor trabalho por todos. Esse sistema nos desafia a quebrar paradigmas, aceitando que as melhores soluções podem vir de qualquer região, independentemente de suas origens geográficas ou históricas.

Para que essa mudança aconteça, é preciso algo mais do que apenas boas intenções. É preciso romper padrões e criar o novo. A história nos ensina que apenas substituindo sistemas antigos por novos, mais eficientes e alinhados às demandas do presente e do futuro, conseguimos tornar os padrões obsoletos. Não foi assim com a Revolução Industrial? Com a chegada da eletricidade? Toda transformação relevante começa com a coragem de abandonar o que já não funciona e de desenhar, a partir de um novo olhar, as bases do que vem a seguir.

O que propomos é mais do que um ajuste nas regras do comércio global; é uma reinvenção de como medimos o sucesso e criamos riqueza. Um sistema em que todos ganham – indivíduos, países e o planeta. Quando os melhores se destacam, o mundo todo avança. Quando valorizamos empresas mais eficientes e sustentáveis, abrimos espaço para que a inovação e a concorrência justa beneficiem a humanidade inteira.

Ainda assim, há desafios. Alguns questionarão a viabilidade de tamanha mudança. Outros temerão os custos ou resistirão à perda de proteção local. Mas é justamente nesses momentos que a história se define. Como civilização, nunca fomos feitos para permanecer estagnados. A evolução é a nossa resposta à crise, e a capacidade de inovar é o nosso diferencial.

A COP30 em Belém representa um momento histórico em que somos convocados a evoluir mais uma vez. Não se trata apenas de proteger o planeta – trata-se de criar mais valor, mais riqueza e melhores condições de vida para todos. Reduzir a pobreza, combater o desperdício e garantir que cada pessoa tenha acesso às oportunidades de um mundo próspero.

O Brasil já foi o protagonista mundial ao promover e sediar a ECO92, abrindo os espaços para empresas e governos iniciarem suas exposições e definições sobre o futuro da sustentabilidade no planeta. Belém, a Amazônia e o Brasil serão os símbolos de uma nova era. Uma era em que o progresso econômico e o cuidado com o planeta andam lado a lado. Uma era em que a inteligência humana, a tecnologia e a cooperação global criam um sistema em que todos têm a oportunidade de prosperar. Que o mundo olhe para Belém e veja, não um desafio, mas uma promessa: a promessa de que somos capazes de construir juntos o futuro que queremos – e que ele pode ser mais próspero, justo e sustentável do que jamais imaginamos.

Artigo publicado na Veja em https://veja.abril.com.br/coluna/cenario-global/a-mudanca-que-a-cop30-pode-iniciar/


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