Por Gustavo Diniz Junqueira
O World Economic Forum (WEF) tem destacado o conceito de Capital Natural como uma das maiores oportunidades de negócios para o futuro. A entidade o define como o conjunto de ativos naturais que inclui terra, solo, água, ar e biodiversidade. Esses recursos são essenciais para o funcionamento da economia global, pois oferecem serviços vitais como a regulação climática, purificação da água e fertilidade do solo. No entanto, a contínua degradação desses ativos está tendo um impacto severo na biodiversidade e nas mudanças climáticas, afetando diretamente a saúde do planeta e a estabilidade econômica.
O conceito de Capital Natural propõe uma abordagem holística inovadora e sistêmica que tem grande espaço para ser aplicado no Brasil. Cada recurso natural é tratado como um ativo estratégico. Essa abordagem vai além da preservação, transformando áreas tradicionalmente vistas como passivos ambientais, como Reservas Legais (RLs) e Áreas de Proteção Permanente (APPs), em ativos financeiros. Por meio de créditos de biodiversidade, pagamentos por serviços ambientais (PSA) e créditos de carbono, essas áreas podem gerar retorno financeiro e ajudar a proteger ecossistemas essenciais.
De acordo com o WEF, o potencial de negócios relacionado ao capital natural é imenso, e pode movimentar expressiva soma de até US$ 10,1 trilhões até 2030, gerando mais de 400 milhões de empregos em áreas como biodiversidade e serviços ecossistêmicos. O Brasil, com seus vastos recursos naturais e biodiversidade incomparável, está perfeitamente posicionado para liderar essa transição para uma economia verde, alinhando crescimento econômico com regeneração ambiental. O grande desafio está em incorporar o valor desses ativos naturais ao sistema econômico de forma eficaz: embora 50% do PIB global dependa diretamente da natureza, a economia tradicional ainda não reflete o verdadeiro valor desses recursos, levando à sua contínua degradação.
A criação de mercados financeiros que atribuam valor a serviços ecossistêmicos, como os créditos de biodiversidade e a valorização de empresas de ativos naturais (NACs), pode mudar essa dinâmica. Isso permitirá que o Capital Natural se torne um ativo econômico reconhecido e valorizado no mercado, incentivando mais investimentos privados na recuperação e conservação ambiental. Para isso, é fundamental contextualizar e definir todos os parâmetros de captação dos dados, respeitando as características de cada país quanto ao clima e disponibilidade de recursos naturais. O estudo sistêmico, preferencialmente realizados por empresas de consultoria sem vínculos políticos, se mostra relevante para prever todo o ciclo produtivo e equacionar todos os fatores que devem compor a formação de valor dos ativos.
A evolução tecnológica entra como um elemento fundamental neste processo de mapeamento e valoração dos ativos. Hoje, já está desempenhando um papel central na mensuração, gestão e preservação do Capital Natural. Ferramentas como sensores IoT, drones, satélites e DNA ambiental (eDNA) estão permitindo monitorar ecossistemas de forma mais precisa e em tempo real. Permitem aumentar a eficiência no uso de recursos hídricos na agricultura e valorizar áreas de proteção permanente e reservas legais. Essas inovações ajudam a medir a degradação e a recuperação dos ecossistemas, fornecendo dados relevantes para a tomada de decisões e para atrair investidores interessados em projetos de recuperação ambiental.
O mercado de seguros também é parte fundamental desse processo. Ao fornecer proteção contra riscos climáticos e ambientais, como secas, inundações ou flutuações de preço no agronegócio exportador, os seguros paramétricos oferecem maior segurança financeira para produtores e investidores. Isso permite que setores como a produção de soja e milho, fundamentais para a economia brasileira, mantenham a competitividade no mercado internacional, ao mesmo tempo em que aderem a padrões de sustentabilidade exigidos globalmente.
Outro pilar crítico é o investimento em infraestrutura sustentável. Melhorias na logística, como a implementação de ferrovias e rodovias de baixa emissão, podem não só reduzir o impacto ambiental, mas também aumentar a competitividade dos produtos brasileiros nos mercados globais, particularmente em setores como exportação de grãos e bioenergia.
O conceito de Capital Natural representa uma visão holística para o desenvolvimento econômico sustentável no Brasil. Ao alinhar o agronegócio exportador, pecuária sustentável, infraestrutura verde e o mercado de seguros, é possível gerar retornos financeiros e, ao mesmo tempo, garantir a preservação dos recursos naturais que sustentam a economia.
O Brasil tem todas as condições para liderar essas iniciativas de investimentos em Capital Natural com os recursos naturais, tecnológicos, humanos e intelectuais. Os novos ativos financeiros gerarão fluxos de receita por meio de créditos de carbono e biodiversidade, ao mesmo tempo em que contribuirão para a proteção de ecossistemas essenciais. Investir no Capital Natural brasileiro significa aproveitar o maior ativo do país — a sua biodiversidade — de maneira que beneficie tanto a economia quanto as gerações futuras.
Gustava Diniz Junqueira é empresário e foi Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo.
Versão do artigo publicada na revista Veja Negócios, em 25/10/2024.
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