O mês de outubro foi marcado por mais uma edição da Anuga, centenária feira de alimentos e bebidas realizada a cada dois anos na cidade de Colônia, na Alemanha. Representando o ITAL – Instituto de Tecnologia de Alimentos, participo há 40 anos assiduamente do evento, organizado pela Koelnmesse GmbH, em busca de produtos e ações dos mais diversos setores que priorizem ciência, tecnologia, inovação e sustentabilidade.
Destaco essa relevante feira do setor de alimentos por dois motivos. Considerando o trabalho que tenho coordenado no Ital de desconstruir a imagem negativa da indústria alimentícia e evitar políticas públicas restritivas à inovação, promoção, comercialização e consumo de seus produtos, decidi ter um olhar mais atento ao termo “ultraprocessados” pela primeira vez e cheguei à conclusão de que ele praticamente inexiste entre os cerca de 7,9 mil expositores de 118 países que receberam em seus estandes 140 mil visitantes de 200 países.
A outra razão é o interesse da organização do evento em trazê-lo para o Brasil como Anuga Select Brazil em 2024, substituindo a Anufood Brazil com a promessa de reunir a maior comunidade nacional e internacional da indústria de alimentos. Para concretização dessa proposta, acompanhei recentemente seu CEO e diretor executivo da Koelnmesse, Gerald Böse, em reuniões na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo e em entidades setoriais. A novidade caminha para ser bem sucedida, considerando que o Brasil já esteve em peso na Anuga deste ano, batendo recorde de participação: cinco dos dez pavilhões contaram com 86 empresas e nove traders brasileiros, além das multinacionais BRF, JBS, Minerva Foods e Marfrig.
Cabe lembrar que a Anuga é estratégica, potencializando a criação de parcerias comerciais, colaborações e networking, e tem como foco a inovação e o binômio sustentabilidade e saudabilidade, temas que têm embasado ações e projetos do Ital nos últimos anos. Na feira deste ano, por exemplo, considero que dois assuntos ficaram em evidência: o estudo 2024 Global Food and Drink Trends, da Mintel, e os esforços dos expositores para garantir a segurança alimentar.
O trabalho da Mintel dedicado a tendências em alimentos e bebidas chama a atenção para três pontos estratégicos: confiança no processo, através de uma comunicação mais clara para minimizar ou até mesmo eliminar o termo “alimentos ultraprocessados” do vocabulário e das preocupações do consumidor; otimização da alimentação, através da retomada do interesse por produtos processados, mais especificamente prontos para consumo, visando conveniência e praticidade, macrotendência da alimentação de maior relevância apontada pelo Ital no Brasil Food Trends 2020, em 2010; alimentação que atenda às necessidades da população que está vivendo mais, priorizando a saudabilidade.
Outro destaque perceptível na Anuga deste ano foi a preocupação com o combate à fome, tema que esteve presente em vários trabalhos da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) que acompanhei ao longo da minha carreira no Ital e que apontam os alimentos industrializados como fundamentais. A segurança alimentar em destaque na feira demonstra os esforços do setor produtivo para que a dieta com industrializados não seja motivada somente por chegarem a regiões mais afastadas e terem preços mais acessíveis, mas também por serem adequados nutricionalmente: opções não faltam.
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