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Boca do Acre/AM (10/07/2023) – A situação do pequeno produtor Antônio Lima da Silva, de Boca do Acre (AM), estava tão desesperadora que ele chegou a “conversar” com as hortaliças perguntando o motivo delas não estarem se desenvolvendo.

“Eu comecei a fazer uns canteiros pra plantar cebolinha, couve, alface, pra vender e poder ajudar na renda, como alternativa para a pesca. Comecei bem pequenininho. Mas era do meu jeito, na marra, e a coisa não ia pra frente. Eu não tinha alegria com a produção. Chegava para trabalhar e até ‘conversava’ com as mudas. Pedia pra elas: ‘Vamos, preciso da ajuda de vocês’. Mas as hortaliças é que precisavam do meu conhecimento”.

A propriedade de Antônio fica na Comunidade Lago Novo, na zona rural de Boca do Acre, no Sul do Amazonas, município mais próximo de Rio Branco (cerca de 220 km) do que de Manaus. É possível chegar na zona rural por terra, mas, dependendo da época e do volume das chuvas, o risco de ficar atolado é grande. Outro meio de transporte mais garantido é por barco.   

Antônio nasceu e foi criado no município, só que as dificuldades iniciais com a produção quase levaram o pequeno produtor a desistir e ir embora com a família. “Eu perguntava para Deus: o que será o dia de amanhã?”. Foram muitas noites de sono perdido, “pensando em como pagar as despesas, como dar melhores condições para a família”.

Thiago, um dos filhos de Antônio, via toda aquela situação do pai, sem perspectiva, sem esperança. “Eu disse: ‘pai, vou arrumar um emprego e vou sair, porque quero ser alguém na vida’”. O pequeno produtor se emociona ao lembrar dessa época e do filho que estava prestes a partir.  

O que fez Antônio ficar na propriedade, “a virada de chave” como ele gosta de dizer, foi quando descobriu e conseguiu a assistência do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). Como acontece com muitos produtores, foi um amigo de Antônio que falou sobre o trabalho do Senar para auxiliar os produtores da região. Então, ele conversou com Thiago e resolveram tentar mais uma vez.

Nessa época conheceram a técnica de campo do Senar Priscilla Pacheco, que passou a dar todo o suporte necessário na propriedade. E havia muito trabalho pela frente. “Conheci o Seu Antônio desmotivado e desacreditado. Quando cheguei, a alface era pequena e estava com muita doença”, revela Priscilla.

Antônio viu no conhecimento da técnica do Senar a chance que precisava. “Nasceu uma esperança dentro de mim. Parece que criei um sangue novo”, recorda.

A virada de chave do pequeno produtor, com apoio de conhecimento

E as mudanças vieram. A técnica implantou outros procedimentos na propriedade e, entre os diagnósticos, recomendou variedades de sementes. Coube a Priscilla também o papel de acalmar Antônio, conter a ansiedade dele. Para melhorar a produtividade, muito baixa na época, o produtor teria de confiar na técnica para dar “um passo de cada vez”.

Com o passar do tempo, a confiança cresceu. As orientações de Priscilla e a dedicação de Antônio logo surtiram efeito e os primeiros resultados apareceram. Os canteiros foram substituídos por estufas. A alface ganhou vitalidade e mais qualidade. A produtividade, de menos de 30 pés de alface por semana, mais que dobrou em poucos meses.

A rapidez da transformação surpreendeu até o próprio Antônio. “Na primeira venda, passamos para 70 pés por semana. A minha vida foi acelerando de um modo tão rápido que eu fiquei assustado. Hoje, o cliente chega pra gente e diz: ‘rapaz essa alface está bonita. Olha o tamanho dessa folha!’ É um orgulho”.

Logo, o barco de Antônio estava transportando mais de 180 pés de alface para vender na cidade. “Hoje a média é de 250 pés a 320 pés de alface por semana”, explica a técnica de campo.

Produção de verduras transportada por barco

Boa qualidade promoveu a diversificação no plantio

Com a produção maior e uma alface de excelente qualidade, a clientela pedia outras hortaliças e Antônio passou a explorar mais seu lado empreendedor e variar sua produção.

“A gente chegava com a alface no mercado e diziam: ‘vocês não têm couve?’ Aí, eu e meu filho tivemos a ideia de investir em outras variedades. Tínhamos pouca couve e aumentamos a produção. Outros perguntavam se tinha rúcula. Não tínhamos, mas plantamos. Hoje temos alface, couve, cheiro-verde, rúcula, coentro, chicória, cebolinha, maxixe, pepino, abóbora, mamão, macaxeira, graças ao crescimento que tivemos”.

Antônio, Thiago e Priscilla

Raimunda, esposa de Antônio, é testemunha do que o marido enfrentou antes de ter a assistência do Senar. “Foi tudo muito sofrido para chegar onde ele está. A gente não tinha condições nem de comprar um sapato, uma roupa. A renda era pouca”.

Thiago, que fez parte de todo o processo desde o início e acompanhou o sofrimento do pai, orgulha-se das conquistas. “Hoje podemos bater no peito e dizer que temos um produto de qualidade. Da situação que a gente vivia para a situação que estamos hoje, mudamos de patamar”, define o filho que nem pensa mais em deixar a propriedade. Pelo contrário, faz planos com o pai para melhorar a produção.

“A situação anterior me fez pensar em sair. Com o trabalho do Senar na propriedade, e com os resultados, meu pai me convenceu a ficar. Graças ao Senar, me aproximei ainda mais do meu pai e, juntos, vimos que podia dar certo, que poderíamos evoluir e melhorar ainda mais”.

Priscilla, técnica do Senar, comemora os resultados. “Firmamos uma parceria que deu certo”. Antônio agora diz com certeza. “Sei onde quero chegar”.

Com informações da CNA/Senar
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