agricultor limpa testa em frente a trator no campo
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A agropecuária brasileira busca um futuro mais verde. Uma das alternativas, está na transformação e utilização de bioinsumos em larga escala.

Por Marcelo Henrique Savoldi Picoli e João Rafael De Conte Carvalho de Alencar 

A agropecuária brasileira se destaca como um dos principais setores da economia nacional. Nos últimos anos, em média um quarto do PIB nacional é proveniente deste setor, dentre os quais, a produção e exportação de commodities agrícolas, como açúcar, café, suco de laranja, carne bovina, carne de frango, milho, soja e algodão. As tendências globais para a agropecuária do futuro levam a sistemas produtivos mais sustentáveis, utilizando cada vez mais tecnologias, e com base na agricultura regenerativa. 

Não é mais uma escolha trabalhar com uma agropecuária mais sustentável, e sim, uma necessidade, frente aos desafios ambientais e de segurança alimentar global, alinhando o equilíbrio entre a produtividade e o respeito ao meio ambiente. Uma das principais vertentes para a exploração de uma agricultura mais sustentável é a utilização de bioinsumos nas lavouras. 

O que são bionsumos?

Os bioinsumos são produtos naturais, podendo ser à base de microrganismos (fungos, bactérias, vírus, etc.), macrorganismos (parasitóides e predadores), ou derivados, utilizados para finalidades como crescimento de plantas, solubilização de nutrientes, manejo de pragas, doenças, plantas daninhas, e até mesmo para a suplementação animal.

Lançado em 2020 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Programa Nacional de Bioinsumos impulsiona o desenvolvimento desse segmento no Brasil.  O objetivo do programa é utilizar a biodiversidade brasileira e ampliar o uso de bioinsumos na agropecuária, e diminuir a dependência da agricultura nacional aos insumos sintéticos (principalmente os importados), tem sido uma alavanca às biofábricas, uma vez que organiza o progresso e legislação de produtos derivados de fontes biológicas, ao mesmo tempo, em que expande a disponibilidade, o acesso e fomenta a adoção e utilização adequada desses produtos.

Brasil lidera as pesquisas, o desenvolvimento e a utilização de produtos neste mercado, cujo progresso deve triplicar até 2030 e atualmente tem um aumento de 30% ao ano, com uma taxa de crescimento anual composta prevista em 23%. A média global do avanço deste setor é de apenas 18%. Este processo desencadeia uma série de fatores positivos, como geração de emprego, de tecnologias sustentáveis, promoção da inovação no agronegócio brasileiro, criação de novas cadeias produtivas e segurança jurídica para o segmento. Além disso, a utilização de bioinsumos traz diversas vantagens como: menor toxidade ao ambiente, redução dos custos de produção, maior eficiência de manejo a longo prazo, além de ser mais sustentável, e por consequência, ser mais saudável ao consumidor final destes alimentos.

O principal desafio para o lançamento de um novo produto biológico, é a produção em larga escala, ou seja, é preciso transportar para o sistema agrícola o que já acontece na natureza. Para que um novo produto seja lançado no mercado, são necessárias algumas etapas: inicialmente, é preciso um investimento em pesquisa e desenvolvimento, para a identificação e investigação de um novo ativo biológico, seguido da padronização na produção e formulação dos produtos nas biofábricas. Um segundo passo é a avaliação experimental a campo e teste para a validação da eficiência do produto, além de testes de segurança (meio ambiente, saúde humana e animal). Por fim, este novo produto precisa ser registrado no órgão responsável, no caso do Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Há uma década, podia-se contar nos dedos a quantidade de produtos registrados como bioinsumos no Brasil. Hoje, temos mais de 500 produtos registrados nessa categoria. Dentre os produtos registrados atualmente, os principais são: armadilhas biológicas, bioacaricidas, biofungicidas, bionematicidas, bioinseticidas, inoculantes e reguladores de crescimento. Na economia nacional, este sucesso é muito positivo, pois aproximadamente 97% dos insumos biológicos utilizados nacionalmente são produzidos no Brasil.

A correta utilização dos bioinsumos contribuem para a preservação da biodiversidade do solo, reduzem a contaminação ambiental, fortalecem a microbiota do solo, combatem pragas e doenças de maneira sustentável, contribuem para a mitigação de mudanças climáticas, principalmente pelas práticas de sequestro de carbono, reduzem a dependência por fertilizantes químicos, minimizam os riscos de resistência das pragas e patógenos e garantem práticas agrícolas mais duradouras e equilibradas.

Controle de qualidade de bioinsumos agrícolas

Na produção de qualquer produto agrícola, é necessário contar com procedimentos rigorosos de controle de qualidade para garantir que o produto seja seguro, eficaz e de qualidade. Para os bioinsumos, os procedimentos de controle de qualidade começam com a seleção das matérias-primas utilizadas na sua produção. É importante que todas as matérias-primas sejam avaliadas quanto à sua qualidade, pureza e procedência. Também é importante garantir que as matérias-primas sejam armazenadas corretamente para evitar a contaminação ou a degradação dos seus componentes.

Em seguida, quando é feita a produção, devem ser enfatizadas as boas práticas de fabricação (BPF), que incluem o uso de equipamentos e instalações limpas e adequadas para prevenir a contaminação, bem como também fazer um acompanhamento minucioso do processo produtivo.

O controle microbiológico é uma das análises mais importantes na produção de bioinsumos, uma vez que a maioria dos bioinsumos contém bactérias, fungos ou vírus benéficos que precisam ser mantidos vivos e ativos para oferecerem os resultados esperados na agricultura. Para isso, são feitas análises microbiológicas para verificar se a presença de microrganismos, quantificação do alvo e pureza, dentro dos padrões estabelecidos.

No mais, o controle de qualidade na produção de bioinsumos também inclui testes de eficácia. Esses testes são realizados para avaliar o desempenho no controle de pragas e doenças na agricultura, ou como bioestimulantes, e devem ser realizados em condições controladas e padronizadas para garantir a precisão dos resultados.

Avanços em formulações de bioinsumos

Nos últimos anos, têm sido desenvolvidas diversas formulações para bioinsumos, para melhorar ainda mais a sua qualidade e eficácia, e suprir problemas de horário de aplicação e tempo de prateleira, visando aprimorar as questões para a sustentabilidade do agronegócio.

Uma das principais tendências em formulações é a utilização de novas tecnologias e processos para preservar a eficácia dos microrganismos benéficos presentes neste composto. Dentre essas tecnologias, destacam-se a microencapsulação, a nanoencapsulação e o uso de matrizes sólidas, que permitem proteger as bactérias e outros microrganismos em ambientes hostis como o solo e eliminar possíveis interações negativas entre outros microrganismos.

Outra tendência importante é o uso de combinações de microrganismos, que resultam em bioinsumos mais efetivos para o controle de pragas e doenças. Essas combinações podem envolver diferentes espécies de bactérias, fungos, vírus e outros microrganismos, que atuam em sinergia para fornecer resultados mais efetivos na agricultura.

Para mais, estão sendo utilizados biopolímeros que além de terem propriedades conservantes, também podem liberar lentamente os insumos biológicos, proporcionando uma ação prolongada e mantendo os seus benefícios por mais tempo.

Tecnologia de aplicação

A aplicação correta dos bioinsumos é essencial para o sucesso do seu uso na agricultura. Diversos cuidados específicos devem ser tomados para garantir a eficácia, segurança e os resultados esperados.

O momento da aplicação é crucial, sendo ideal em temperaturas amenas e com baixa radiação solar. O equipamento de aplicação deve ser ajustado conforme as características do bioinsumo, incluindo vazão, pressão e tamanho das gotas. As condições climáticas também devem ser consideradas, como a ausência de ventos fortes e chuva nas horas seguintes à aplicação.

O armazenamento e o manuseio corretos também são essenciais para preservar sua qualidade. É importante seguir as recomendações do fabricante quanto à temperatura, umidade e tempo de exposição.

Desafios e perspectivas

O uso de bioinsumos em larga escala enfrenta uma série de desafios e perspectivas que moldam seu desenvolvimento. A regulamentação da produção e políticas públicas são cruciais para estabelecer padrões de qualidade e segurança, além de incentivar a adoção desses insumos. O surgimento de novas tecnologias oferece oportunidades para aprimorar a eficácia e a aplicação dos bioinsumos, promovendo uma agricultura mais sustentável e eficiente.

Para isso, é importante que os avanços tecnológicos estejam alinhados com o desenvolvimento das pesquisas desses produtos, principalmente no que se refere às formulações e às tecnologias de aplicações. A questão da biossegurança, incluindo rastreabilidade, descarte adequado e controle ambiental, é fundamental para mitigar potenciais impactos negativos. 

Além disso, o treinamento de produtores e a assistência técnica adequada são essenciais para garantir o uso correto e maximizar os benefícios dos bioinsumos. Apesar dos desafios, esse segmento apresenta um grande potencial para impulsionar a agricultura sustentável, proporcionando soluções inovadoras e ecologicamente responsáveis para os desafios enfrentados pelo setor. No entanto, ainda é necessário o sancionamento de um marco regulatório dos bioinsumos para oferecer maior segurança jurídica aos produtores e investidores, promovendo um ambiente favorável ao seu desenvolvimento e adoção em larga escala.

Marcelo Henrique Savoldi Picoli é Engenheiro Agrônomo, doutor em Agronomia, pós doc em Plant Pathology Professor, pesquisador e coordenador do curso de Agronomia do Centro Universitário Integrado.

João Rafael De Conte Carvalho de Alencar é Engenheiro Agrônomo, doutor em Agronomia Professor e pesquisador do Centro Universitário Integrado.

O artigo foi publicado no site da PwC e compartilhado no Food Forum News com a autorização do autor.

1 Comentário
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