Por Gustavo Diniz Junqueira
A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos cria um cenário que pode trazer oportunidades para o agronegócio brasileiro, especialmente em relação aos mercados financeiros e comerciais. Durante seu primeiro mandato, Trump adotou políticas que, embora protecionistas, abriram espaço para que o Brasil consolidasse sua presença em mercados globais. Agora, um segundo mandato pode oferecer novas chances de fortalecimento para o setor agropecuário do Brasil.
As expectativas de um novo governo Trump já impactam os mercados financeiros internacionais. A valorização do dólar torna as exportações brasileiras mais competitivas e cria um ambiente vantajoso para produtos agrícolas brasileiros no mercado externo. Esse fortalecimento da moeda americana, junto com a possível política fiscal mais expansionista nos EUA, reforça a atratividade do Brasil como fornecedor de alimentos e biocombustíveis em mercados globais.
A gestão atual do governo Trump deve ter atitude mais ousada em termos comerciais. A eventualidade de grandes acordos comerciais entre Estados Unidos e China pode afetar as exportações brasileiras de commodities considerando a capacidade de barganha dos Estados Unidos, que podem usar outros produtos na pauta de negociações bilaterais. Esses acordos podem valer para outros mercados como México, países europeus e árabes, entretanto com impacto mais reduzido para o Brasil por conta dos compromissos já assumidos e o protagonismo do país na produção de commodities agrícolas.
Nos biocombustíveis, o Brasil e os EUA consolidaram suas produções de etanol de forma a atender à crescente demanda global. O Brasil, ao longo dos últimos anos, expandiu significativamente sua produção de etanol de milho, que se tornou um complemento importante ao etanol de cana-de-açúcar, aumentando a oferta total do país. Com essa capacidade ampliada, o Brasil se posiciona de maneira sólida como um fornecedor internacional de etanol, com um portfólio de produtos que pode atender a diferentes demandas de forma sustentável e competitiva. O câmbio favorável também contribui para a competitividade do etanol brasileiro no exterior, ajudando a abrir novos mercados e expandir a presença do Brasil.
A postura de Trump, favorável aos negócios, pode facilitar ainda parcerias estratégicas em tecnologia agrícola. O Brasil tem uma chance de fortalecer colaborações em áreas como a agricultura de precisão e a biotecnologia, promovendo inovações que agregam eficiência e produtividade. Parcerias nesse setor poderiam beneficiar as economias de ambos os países e consolidar o Brasil como líder em inovação tecnológica no campo.
No mercado de proteína animal, as exportações brasileiras de carne bovina para os Estados Unidos enfrentaram alguns desafios no passado, como restrições temporárias relacionadas a questões sanitárias. Após uma recuperação, em 2023, os EUA se firmaram como o segundo maior destino para a carne bovina brasileira. Com um novo governo Trump, a expectativa é que essas relações comerciais se fortaleçam, desde que o Brasil mantenha seus altos padrões de qualidade e segurança alimentar, essenciais para consolidar sua imagem de fornecedor confiável.
O protecionismo, marca registrada das políticas de Trump, pode introduzir novas barreiras para produtos brasileiros, mas isso também impulsiona o Brasil a diversificar sua base comercial em regiões como a Ásia e a América do Sul. Fortalecer esses laços ajudará o Brasil a mitigar os riscos de eventuais restrições dos EUA. Além disso, a demanda mundial por alimentos e biocombustíveis está em alta, e o Brasil está bem-posicionado para atendê-la, independentemente das políticas comerciais americanas.
Felizmente, cooperativas e empresários brasileiros estão ampliando a presença nos principais mercados internacionais, com visitas muito frequentes em mercados estratégicos, com especial atenção à China. Há um imenso espaço ainda que pode ser pelos produtos brasileiros no mercado chinês. No entanto, eventuais acordos entre China e Estados Unidos podem criar barreiras comerciais dos produtos brasileiros.
Outro fator relevante é a posição do Brasil em práticas agrícolas sustentáveis e de baixo carbono. Mesmo que um governo Trump não dê prioridade à pauta ambiental, o Brasil pode se beneficiar de sua liderança em práticas sustentáveis, como o plantio direto e os sistemas integrados. Esse diferencial torna o Brasil um parceiro atraente para mercados globais que buscam soluções de baixo impacto ambiental. Empresas que hoje investem em tecnologias limpas e que beneficiam a agricultura sustentável manterão suas iniciativas, com presença maior de empresas chinesas.
O momento da COP30 é uma oportunidade de explorar a pauta positiva para o país no mercado internacional. Essa pauta deve ser bem explorada, posicionando o Brasil como referência no mercado de carbono e à frente de diversas outras iniciativas sustentáveis que podem ser atraentes para atrair os investimentos estrangeiros.
A volta de Donald Trump à presidência dos EUA traz oportunidades para o agronegócio brasileiro. Com as estratégias adequadas, o Brasil pode fortalecer sua posição nos mercados internacionais, buscar alianças em tecnologia agrícola e destacar suas práticas sustentáveis. Esse cenário favorece a consolidação do país como um fornecedor estratégico e competitivo no cenário global.
Gustavo Diniz Junqueira é empresário. Foi Secretário de Estado da Agricultura no Estado de São Paulo e presidente da Sociedade Rural Brasileira.
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