Em 2023 um dos maiores cheques de investimento recebidos via capital de risco para uma empresa do sistema alimentar foi para Oakberry: R$325 milhões via fundo de private equity do BTG.
Por Rodrigo Grecco
A Oakberry é uma das principais marcas de açaí no país, fundada em 2016 por Georgios Frangulis, a empresa tem mais de 700 unidades e está presente em mais de 40 países. O faturamento estimado em 2023 foi de R$ 500 milhões.
Um resumo do história e das ideias por trás da criação da Oakberry está bem registrado aqui nessa entrevista da Forbes com o Georgios.👉🏽 ler aqui
O investimento marca um movimento de crescimento vertiginoso internacional da fruta e tendo o açaí como veículo símbolo do made in brazil.
Fonte Foto: Getty Images
Curioso para entender as motivações e influência desse investimento e também pela velocidade de crescimento da Oakberry me deparei para o que já é chamada de Ouro Roxo da Amazônia.
A consciência dos consumidores pelos benefícios da fruta, a versatilidade de aplicações e formas de consumo e o interesse crescente internacional fizeram com que a produção e consumo de açaí explodissem nos últimos 10 anos.
Em 2023 tivemos algumas movimentações de players e dados de mercado são marcantes:
- Foram exportadas mais de 8.000 toneladas de açaí. Os principais mercados são EUA, Austrália, Japão e UE.
- O valor da produção exportada passou dos US$ 26 milhões
- As empresas Açaí Puríssimo e Açaí Amazonas (umas das maiores produtoras de açaí do mundo) uniram-se numa fusão e criaram uma das primeiras empresas 100% verticalizadas do setor. Um diferencial competitivo que pode fazer a diferença num futuro próximo.
- Após 25 anos da criação da Sambazon, uma das principais empresas de açaí nos EUA. O mercado americano de açaí está próximo de atingir a marca de US$ 1 bilhão em receitas através de centenas de marcas e empresas que adotam a fruta como base de suas receitas.
- Entrevista com o fundador da Sambazon, Ryan Black, bem interessante, vale ler aqui:
- Na esteira da força do empreendedorismo americano, a Fortune Magazine contou nesse vídeo a história do casal americano Rob e Abby, que criaram a Playa Bowls, uma empresa de bowls de açaí na Califórnia em 2014 e hoje faturam mais de US$ 100 milhões anuais.Ainda em 2024, o mercado de sorvetes no Brasil cresceu mais de 15% e segundo dados da Scantech o consumo de açaí gelado cresceu 49% entre 2022 e 2023. As ondas de calor tiveram clara influência nesses dados também.Açaí aparece na 3a posição de alimentos mais pedidos via delivery na retrospectiva iFood 2023 com mais de 30 milhões de pedidos, atrás apenas de hamburger e sanduíche wrap. Fonte aqui.
- Entrevista com o fundador da Sambazon, Ryan Black, bem interessante, vale ler aqui:
A partir desses dados compartilho reflexões sobre o futuro da fruta e perspectivas do mercado:
Aumento da demanda por alimentos naturais e saudáveis
A indústria do açaí está se expandindo significativamente devido à crescente demanda por alimentos naturais e saudáveis. As vantagens para a saúde de comer alimentos crus e não processados estão se tornando mais conhecidas pelos consumidores. O mercado é impulsionado pelas vantagens do açaí para a saúde, que incluem ser uma alta fonte de fibra alimentar e antioxidantes. A disponibilidade de açaí em diversas formas, incluindo bebidas, pós e cápsulas, está aumentando ainda mais a demanda do mercado.
Expansão geográfica e novos modelos de negócios
São esperadas fusões e consolidações de cadeia no setor. A baixa barreira de entrada de micro franquias e flexibilidade na forma de consumo abre possibilidade para novos entrantes. Como é o caso da Jah Açaí, que já conta com mais de 130 lojas no país, ano passado trouxe o conceito de Store in Store para sua estratégia de franchising, propondo uma combinação entre marcas complementares. Ver mais aqui
Ao mesmo tempo novos mercados globais estão se abrindo como é o caso da Índia que recentemente autorizou a compra de refrescos de açaí. Ver mais aqui.
Mudanças Climáticas, Sustentabilidade e Floresta em pé
Condições ambientais desfavoráveis, como as alterações climáticas, podem perturbar a cadeia de abastecimento, aumentar os custos de produção e afetar a disponibilidade do açaí, impactando negativamente o progresso do mercado. É esperado que consumidores mais conscientes forcem marcas a reforçarem seus compromissos éticos por transparência em toda cadeia e opções que mantenham a a pureza.
No início de 2024, a Embrapa apresentou seu primeiro Zoneamento Agrícola de Risco Climático voltado para o açaí, fornecendo um conjunto de informações fundamentais para que produtores possam permitir ao produtor identificar as melhores regiões para produção e as épocas para plantio das mudas, levando em conta o clima, a cultura e os diferentes tipos de solos. Ver mais
O veículo Joio e Trigo fez excelente reportagem investigativa em 2023 mostrando os meandros da cadeia produtiva do açaí e como o crescimento abrupto pela demanda da fruta vem re-configurando as relações entre extrativistas, população ribeirinha e o impacto da “açaização” na Floresta Amazônica. Ver mais
O significativo aporte financeiro na Oakberry sinaliza um momento definidor para a bioeconomia brasileira, colocando o açaí não apenas como protagonista nos campos da saúde e nutrição, mas também como o coração pulsante de um novo modelo de desenvolvimento econômico.
Parece ser o momento de reconhecer que a bioeconomia do açaí, quando enraizada em práticas sustentáveis e justas, tem a força de gerar ondas de transformação que podem reverberar muito além de nossas fronteiras.
Com a visão empreendedora ampliada e ação coletiva, o açaí pode ser o precursor de uma bioeconomia nacional revitalizada, que cresce e se nutre da biodiversidade única do Brasil, fortalece as comunidades locais e se sustenta com a integridade de um ecossistema preservado. Este não é apenas um caminho possível; é um caminho que podemos percorrer com urgência e boa-aventurança, com o açaí liderando o caminho.
Texto original publicado no canal Clima, Comida e Capital!, no Substack.
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