A safra de uvas de 2025 no Brasil promete ser uma das melhores dos últimos anos, com projeção de colheita de 700 mil toneladas apenas no Rio Grande do Sul, igualando ou superando a produção nacional de 2024.
A excelência em quantidade e qualidade deve impulsionar o consumo interno e abrir novas oportunidades de exportação, consolidando o país como um player emergente no mercado global de vinhos.
Safra 2025: Quantidade e qualidade em destaque no Brasil
Nos últimos cinco anos, a produção de vinhos no Brasil tem apresentado um crescimento significativo tanto em quantidade quanto em qualidade. A região do Rio Grande do Sul continua sendo a principal produtora, mas outras regiões como Pernambuco, São Paulo, Distrito Federal e Minas Gerais também têm se destacado.
No Estado de São Paulo, por exemplo, houve um aumento de 700% no número de videiras plantadas entre as safras de 2022 e 2023, chegando a 64 mil mudas, para atender a cerca de 220 vinícolas que atuam no estado. É um expressivo aumento considerando que o estado tinha apenas 7,8 mil unidades de videiras plantadas em 2022. Minas Gerais também tem aumentado sua produção, com expectativa de superar 2,5 mil toneladas de uvas em 2024.
A Serra Gaúcha, responsável por 90% da produção nacional, lidera a safra com uvas de alta qualidade para vinhos finos, espumantes e sucos. Segundo Daniel Panizzi, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra):
“A safra 2025 se confirma como excepcional, com uvas que elevam o padrão dos nossos vinhos. Isso deve aumentar a procura por rótulos brasileiros, tanto no mercado interno quanto externo.”
A Wine South America (WSA), que ocorre de 6 a 8 de maio em Bento Gonçalves, será o palco para celebrar e negociar os primeiros resultados da safra. A feira, uma das mais importantes da América Latina, deve promover mais de 2 mil reuniões de negócios, reforçando o potencial do Brasil no cenário vinícola global.

“Em 2020, tivemos uma safra que elevou os padrões dos nossos vinhos e a procura, consequentemente, foi maior por aqueles rótulos. Isso deve ocorrer também com os vinhos produzidos em 2025. Esse ano se confirmou como mais uma grande safra para os vinhos gaúchos”, destaca Panizzi.
A mesma opinião sobre a qualidade superior da atual safra é compartilhada por Philippe Mevel, enólogo-chefe da Chandon Brasil:
“As primeiras uvas da safra 2025 foram recebidas em 3 de janeiro, e as condições climáticas favoráveis – com um clima quente, ensolarado e seco – proporcionaram uma maturação perfeita e um excelente estado sanitário. Nossas principais variedades, Pinot Noir, Chardonnay e Riesling Itálico, apresentam sabores delicados e um ótimo equilíbrio de acidez, características essenciais para a elaboração de nossos espumantes excepcionais.”
Segundo Mevel, esse cenário contrasta significativamente com o restante do ciclo, que foi chuvoso e menos promissor. No entanto, à medida que a Chandon se aproxima da finalização da safra, há um sentimento de muita satisfação com a qualidade das uvas colhidas. “Além disso, sentimos um grande orgulho e alívio ao ver nossa região se recuperar plenamente após as severas enchentes de maio de 2024”, reforça Mevel.
A colheita em Encruzilhada do Sul foi conduzida por uma equipe altamente dedicada, garantindo a excelência das uvas. Já em Garibaldi, trabalhadores temporários desempenham um papel essencial no recebimento e na adega.
“Vale destacar a significativa participação feminina em nossas operações, com 70% dos colaboradores da colheita sendo mulheres. Esse resultado reflete o esforço conjunto de uma equipe diversificada e comprometida com a qualidade”, conclui Mevel.
Crescimento do consumo interno de vinhos no Brasil anima produtores
A qualidade dos vinhos brasileiros melhorou consideravelmente, com investimentos em tecnologia e inovação, tornando o Brasil uma força emergente no cenário vinícola mundial. A produção de vinhos orgânicos e biodinâmicos também está em expansão, atendendo à demanda por produtos mais sustentáveis.
O resultado pode ser visto com o aumento no consumo de vinhos no Brasil: cresceu 33% nos últimos 5 anos, passando de 2,1 litros/habitante/ano em 2019 para 2,8 litros/habitante/ano em 2023. Entre os fatores que impulsionam esse aumento estão:
- Popularização da cultura do vinho: Expansão de wine clubs e plataformas de e-commerce.
- Maior acesso a vinhos de qualidade e com valores acessíveis: Supermercados e lojas especializadas ampliaram a oferta de rótulos nacionais.
- Eventos e enoturismo: Festivais como o Fenavinho e o Festival da Colheita atraem novos consumidores.
Excepcional safra de uvas é percebida também no Chile
Os produtores chilenos, que lideram na produção, exportação e consumo de vinhos na América Latina, igualmente percebem que terão safra excepcional neste ano. Este fato torna evidente que a concorrência será acirrada na produção e nas vendas de vinhos latino-americanos.
Cristián Vallejo, enólogo-chefe da VIK, vinícola que vem ganhando seguidos prêmios e reconhecimentos internacionais de qualidade, destaca o que impacta positivamente a safra:
“Acreditamos que há três fatores que estão influenciando positivamente esta colheita: as temperaturas noturnas ficaram acima de 10°C, proporcionando uma metabolização mais lenta e suave do cacho, melhorando seus precursores fenólicos; o processo de lignificação foi mais rápido graças à antecipação do encurtamento dos dias; e uma versão mais antiga, antecipando melhor qualidade da uva.
Cristián entende que até agora foi uma temporada muito parecida com a de 2023, que por si só já foi de muito boa qualidade, e a expectativa é que esta seja ainda melhor.
Espumantes brasileiros ganham destaque no mercado nacional
Os espumantes nacionais representam 40% da produção e têm conquistado reconhecimento internacional. Em 2023, a produção atingiu 1,4 milhão de hl, um aumento de 40% em relação a 2019. Marcas como Chandon, Casa Valduga, Miolo e Salton lideram o mercado em qualidade e quantidade, com produtos de boa qualidade.
O país hoje conta com boa diversidade de variedades de uvas que são usadas na produção dos espumantes:
- Serra Gaúcha: Principal e tradicional região produtora, com destaque para Chardonnay, Pinot Noir, Riesling Itálico e Moscato. A cidade de Bento Gonçalves, sede do evento Wine South America, é conhecida como a capital brasileira da uva e do vinho e contempla a importante denominação de origem (DO) Vale dos Vinhedos. O município de Pinto Bandeira, que fica a poucos quilômetros de Bento Gonçalves, conta também com a certificação de Denominação de Origem de Espumantes, tornando-se a primeira DO de espumantes do Novo Mundo.
- Vale do São Francisco: Conhecido por Malvasia e Syrah, adaptadas ao clima quente da região Nordeste do Brasil.
- Campanha Gaúcha: Aposta em Tannat para espumantes rosés.
- Serras Santa Catarina: consolida-se como uma das principais regiões vitivinícolas do Brasil, com uvas de altitude que produzem vinhos e espumantes de alta qualidade. O clima frio e as condições geográficas únicas são fatores-chave para o sucesso da viticultura no estado, e tem atraído investimentos e reconhecimento internacional. Atualmente as uvas Chardonnay e Pinot Noir se destacam na região.
Hoje é possível encontrar vinhos espumantes de marcas conhecidas e tradicionais elaborados com uvas como Chardonnay e Moscato a partir de R$ 30,00. Tais opções são relevantes por serem acessíveis aos consumidores que iniciam a experiência de degustar um vinho espumante.
Perspectivas de exportação
Apesar de ainda estar atrás de Chile e Argentina em volume e valor de exportações, o Brasil vem ganhando espaço no mercado internacional. Em 2023, o país exportou 200 mil hl, com destaque para espumantes e vinhos de altitude, principalmente para Paraguai, EUA e China.
- Chile: Exportou 8,5 milhões de hl (US$ 2,1 bilhões).
- Argentina: Exportou 7 milhões de hl (US$ 1,8 bilhões).
- Brasil: Exportou 200 mil hl (US$ 50 milhões).
Com uma excepcional safra de uvas em 2025, o Brasil reforça seu potencial no mercado de vinhos, combinando qualidade, inovação e sustentabilidade.
O aumento do consumo interno e as perspectivas de exportação indicam um futuro promissor para o setor, que deve se consolidar como referência global nos próximos anos.
Fontes: Ibravin, Uvibra, Wine South America, Embrapa Uva e Vinho.
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