As fazendas verticais estão emergindo como uma solução inovadora e sustentável para os desafios agrícolas globais, especialmente com a previsão de que a população mundial alcance 10 bilhões até 2050.
O site AgTech Navigator abordou o tema em diversas matérias durante todo o ano 2024 e indica que tem sido uma trajetória cheia de obstáculos para o negócio, para dizer o mínimo. No entanto, ainda há uma grande expectativa de que as fazendas verticais e as tecnologias de agricultura em ambiente controlado (CEA) sejam ampliadas para reduzir significativamente a dependência das importações de alimentos e melhorar o acesso a produtos locais de alta qualidade e extremamente frescos.
Este modelo de agricultura, que utiliza espaços urbanos para cultivar alimentos em estruturas verticais e consegue levar produtos frescos mais rápido aos consumidores urbanos, promete revolucionar a forma como produzimos e consumimos alimentos.
Crescimento do mercado
O mercado de fazendas verticais está projetado para crescer significativamente, com estimativas apontando um aumento de US$ 3 bilhões em 2021 para mais de US$ 9,6 bilhões até 2025.
Esse crescimento é impulsionado pela necessidade de aumentar a produção de alimentos em um ambiente urbano e pela crescente demanda por produtos frescos e livres de agrotóxicos.
Sustentabilidade e uso eficiente da água
As fazendas verticais utilizam 97% menos água do que as práticas agrícolas tradicionais, o que é essencial em um mundo onde a escassez hídrica é uma preocupação crescente.
Um bom exemplo do bem uso das fazendas verticais está no artigo “UAE: Small country, big plans“, publicado em 4 de dezembro de 2024 por Harry Holmes no site AgTechNavigator. Ele discute as ambiciosas iniciativas dos Emirados Árabes Unidos (EAU) para transformar seu sistema alimentar.
Atualmente, os EAU importam cerca de 85% dos alimentos consumidos e possuem apenas 5% de terras aráveis. O país estabeleceu a meta de produzir internamente metade dos alimentos consumidos até 2051. Para alcançar esse objetivo, investimentos significativos estão sendo direcionados para tecnologias agrícolas avançadas, especialmente a agricultura vertical.
Desde a introdução das fazendas verticais em 2016, os EAU têm desenvolvido instalações de grande escala, como a Bustanica em Dubai, que produz aproximadamente 1.000 toneladas de hortaliças por ano. Adicionalmente, a empresa local ReFarm anunciou a construção da GigaFarm, prevista para inauguração em 2025, com capacidade para produzir mais de 3.000 toneladas de alimentos anualmente, visando substituir 1% das importações de produtos frescos.
Essas fazendas verticais fazem parte de projetos mais amplos, como o Food Tech Valley em Dubai, uma iniciativa governamental que busca atuar como um centro de inovação para a segurança alimentar, colaborando com parceiros como o Programa Mundial de Alimentos, PepsiCo e o Banco de Desenvolvimento dos Emirados. O complexo de 162 hectares é dividido em quatro clusters principais: produção de alimentos, logística, um parque empresarial e um centro de inovação, com a expectativa de produzir 300 novas variedades de culturas e gerar mais de 14.000 novos empregos.
Em Abu Dhabi, o AgTech Park, inaugurado no ano anterior, é um empreendimento agrícola de 500 acres planejado para produzir 40 quilotons de frutas e vegetais frescos por ano.
Apesar do entusiasmo e dos investimentos, especialistas expressam ceticismo quanto à viabilidade dessas metas. A escassez de recursos hídricos e as condições climáticas adversas representam desafios significativos. Além disso, há preocupações sobre a sustentabilidade econômica dessas tecnologias, considerando os altos custos de operação e manutenção. Embora as iniciativas demonstrem o compromisso dos EAU com a inovação e a segurança alimentar, a eficácia dessas estratégias em alcançar a autossuficiência alimentar permanece incerta.
Tecnologias avançadas
A integração de tecnologias como Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT) e Big Data permite um controle rigoroso das condições de cultivo.
Sensores monitoram temperatura, umidade e iluminação, criando um ambiente ideal para o crescimento das plantas. Isso não apenas aumenta a produtividade, mas também possibilita múltiplas colheitas ao longo do ano.
Além disso, essas fazendas não dependem de defensivos agrícolas para afastar pragas e ameaças naturais, contribuindo para uma produção mais saudável e sustentável.
Agricultura urbana aproxima produtos vegetais e consumidores
Com mais da metade da população mundial vivendo em áreas urbanas, as fazendas verticais oferecem uma solução prática para o fornecimento local de alimentos. Isso reduz custos de transporte e emissões de carbono associadas à logística agrícola.
Apesar dos benefícios, as fazendas verticais enfrentam desafios como altos custos iniciais de instalação e operação. No entanto, a crescente conscientização sobre saúde e sustentabilidade está criando uma demanda robusta por produtos cultivados verticalmente. A expectativa é que o número de fazendas verticais continue a aumentar, com já mais de 20 estabelecimentos operando no Brasil.
O que podemos esperar para o futuro das fazendas verticais
As fazendas verticais estão se consolidando como uma tendência promissora no setor agrícola global. Com a combinação de tecnologias avançadas e práticas sustentáveis, elas não apenas atendem à demanda crescente por alimentos frescos e saudáveis, mas também oferecem uma resposta eficaz aos desafios da urbanização e da escassez de recursos naturais.
O futuro da agricultura pode muito bem contar com o adicional de produção de alimentos com a opção de produtos das fazendas verticais. No entanto, assim como em todos os projetos, é fundamental o criterioso estudo de todos os recursos naturais disponíveis em cada local em quantidade e qualidade (terra, água, luz, infraestrutura de transporte e de armazenagem), que podem impactar significativamente a produtividade, a perda de alimentos e a viabilidade das operações das fazendas verticais.
