Um zap que mudou a minha vida (e criou novo modelo de sociedade)

Por João Paulo Pacífico

Nos últimos 3 meses trabalhamos na construção de um NOVO modelo de SOCIEDADE.

Um formato jurídico jamais visto no Brasil (talvez no mundo), que envolve a produção de alimentos, geração de renda e regeneração ambiental, tudo baseado na colaboração e na compaixão.

Uma Nova Era está começando…boa leitura:

Era uma sexta-feira chuvosa, 12 de julho de 2024, eu estava voltando de uma viagem muito tocante em que encontrei agricultores que perderam quase tudo nas enchentes do RS.

Uma viagem em que pude ver as consequências da nossa negligência com a natureza…  em que conversei com uma senhora que ficou 5 dias vivendo em uma caminhonete em cima do morro, enquanto aguardava a água baixar para entrar na sua própria casa.

Imagina a tristeza que é ver todas as suas coisas embaixo d’água?

O Aeroporto de Porto Alegre estava desativado. Sentado no ônibus indo para a Base Aérea abri meu WhatsApp e li uma mensagem inesperada, que mudaria a minha vida e a de tantas outras pessoas.

Gislaine (que hoje chamo de Gisa), uma pessoa que eu não conhecia, dentre outras coisas disse na mensagem que gostaria de doar uma fazenda de 1.500 hectares para mim ou para a Gaia.

Fiquei meio sem entender… empolgado por um lado e confuso por outro.

Pousei em São Paulo e logo liguei para Gisa. Naquele momento, a mensagem da doação começou a ganhar vida.

Gisa é uma empresária mineira, que dentre outras coisas administra uma grande fazenda onde cultiva soja e gado.  Mas ela tinha o sonho de transformar aquele lugar.

E, imagino, encontrou, em mim e na Gaia, alguém para dividir esse sonho:

“Vamos fazer uma cidade sustentável, em que as pessoas vão morar e plantar, fazer uma reforma agrária do terceiro setor”, sugeri, empolgado, na ligação.

“João, já que estou em São Paulo, vamos nos reunir na segunda-feira?”, convidou ela.

Aceitei na hora.

O Encontro

Segunda de manhã conversei com a Priscila Pasqualin, uma querida amiga e excelente advogada do terceiro setor.  Contei a história da doação, da cidade sustentável… ela entrou na empolgação e à tarde fomos encontrar a Gisa.

Quando vimos a Gisa pela primeira vez, fomos recebidos por um largo sorriso e um abraço apertado.

Foi uma forte conexão à primeira vista!  Que ser humano incrível… prática, decidida, visionária.

“Sou do agronegócio, mas concordo com o que você fala, João.”  Disse ela, se referindo ao fato de eu ser muito crítico do modelo de monocultura-agrotóxico-concentração de renda.

E assim, começamos a projetar o futuro:

Tomamos 3 decisões fundamentais sobre a propriedade que seria doada:

1. Sem uso de agrotóxicos
2. Sem especulação imobiliária.
3. Uma comunidade baseada na colaboração e na compaixão.

Faltava alguém

Até aqui tudo ótimo!  Na Gaia sabemos criar estruturas financeiras inovadoras, a Pri tem uma capacidade ímpar de fazer os instrumentos jurídicos, mas faltava o mais importante:

• Quem mais conhece produção agroecológica no Brasil?
• Quem tem uma tecnologia social colaborativa testada há 40 anos?

A resposta está em 3 letras que são ao mesmo tempo tão admiradas e incompreendidas: MST.

Sim, o MST entende muito de agricultura e de coletividade (concorde você ou não).  Os conheço há vários anos, já financiamos mais de uma dezena de cooperativas nos últimos anos e tenho evidências da seriedade do trabalho do Movimento.

A visita

Hora de conhecer o local desse incrível projeto!

Não sou muito fã de dirigir, mas aquela viagem de mais de seis horas para a fazenda foi especial.  Estávamos em 5 no carro, ansiosos para conhecer aquela terra que seria transformada.

A fazenda era gigante, vários morros… pasto… soja!

Uma equipe multidisciplinar do MST nos encontrou lá.

Ali já começou o trabalho para definir o que será plantado, quando, onde as pessoas irão morar, como será essa comunidade…

A assinatura

Após alguns meses de muito trabalho para colocar o projeto no papel, chegou o grande dia, 14 de outubro de 2024, o dia da doação.

Esse não era só mais um negócio.  Tínhamos que fazer algo grandioso para celebrar o momento da assinatura. Por sinal, “CELEBRE” é o décimo valor da Gaia.

O Time da Gaia preparou uma experiência especial, incluindo um vídeo com o depoimento de pessoas importantes na vida da Gisa.

Foi emocionante demais. Meus olhos lacrimejavam quando olhei pro lado e, pela primeira vez, vi Gisa chorar.

Mercia (sua amada prima) com seus dois filhos João e Gabriel, que foram fundamentais nesses meses, estavam muito emocionados. Pedro, seu fiel escudeiro, que também veio de Minas só para esse momento, não se conteve, assim como as demais pessoas que presenciaram aquele momento histórico.

Entregamos para Gisa uma placa com a marca do Fundo e todas as pessoas presentes receberam uma camiseta.

Tudo gerava emoção e tornava aquele dia ainda mais inesquecível.

Após muitas lágrimas, concluímos aquele momento histórico e assinamos a doação dos mais de 1.500 hectares para a Gaia Legado. E assim criamos o Fundo Patrimonial Joaquim Rosa Cambraia, uma homenagem da Gisa a seu pai, que faleceu há quase 40 anos.

Futuro e uma Nova Era

E assim nasce o projeto Nova Era de Gaia.

Num futuro próximo, mais de 500 pessoas irão morar ali (com regras de convivência pacífica), plantando comida de verdade e vivendo de forma colaborativa (todo ganho será repartido coletivamente).

Tenho certeza que essa atitude gigante de compaixão vai INSPIRAR outras pessoas… o mundo não precisa de desmatamento, soja e gado… precisa de árvores, de comida e de AMOR.

Só assim teremos um futuro.

Gratidão, Gisa!

Iremos honrar sua confiança.

* João Paulo Pacífico é CEO Investimentos de Impacto do Grupo Gaia

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