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A iniciativa privada e o estado interagem de diferentes formas quanto aos padrões globais de sustentabilidade

Por Fernanda K. Lemos*

Como governos reagem aos requisitos globais de sustentabilidade? Esta é a pergunta que motiva o recente projeto de pesquisa internacional desenvolvido pelo Insper em parceria com a York University (Toronto) e Austral University (Buenos Aires). A iniciativa terá a duração de quatro anos e conta com dez pesquisadores alocados na Argentina, Brasil e Canadá. A ação é financiada pelo Social Sciences and Humanities Research Council – SSHRC (em português – Conselho de Pesquisa em Ciências Sociais e Humanas) do Canadá, uma agência federal que promove e apoia pesquisa e treinamentos em ciências sociais.

A iniciativa privada e o estado interagem de diferentes formas quanto aos padrões globais de sustentabilidade. A Moratória da Soja é um exemplo de sucesso internacional da iniciativa privada. Trata-se de um pacto de não comercialização de soja produzida em áreas desmatadas no bioma Amazônia após 2006, firmado pelas indústrias exportadoras de soja ligadas à Associação das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) e à Associação Nacional de Exportadores de Cereais (ANEC). Os resultados comparativos dos 102 municípios monitorados entre 2002 e 2019 mostraram que a taxa média de desmatamento caiu de 9.974 km2 no período que antecede a Moratória (2002-2008) para 2.405 km2 durante a Moratória (2009-2019).

Neste caso específico da Moratória da Soja, o governo se uniu em 2008 por meio da fiscalização das propriedades de soja e devido à implementação do Código Florestal. No entanto, não houve qualquer vínculo de responsabilidade legal e efetiva ao pacto. Isso não quer dizer, porém, que os governos não têm se movimentado na direção de construir sinergias entre os ambientes público e privado em termos de autoridade. Apesar disso, o entendimento quanto a estes movimentos de união ainda é pouco explorado, especialmente quanto à natureza estratégica em países em desenvolvimento ou denominados Global South.

Este fato motiva a pesquisa que comparará três grandes players globais das Américas – Argentina, Brasil e Canadá – nos setores produtivos de mineração e soja. Os dois maiores países da América do Sul fazem parte do grupo de países em desenvolvimento, no denominado Global South, que contrasta como o Canadá, país desenvolvido e parte do Global North.

O projeto procurará entender os porquês e a maneira como acontecem os movimentos dos Estados Nacionais. Trata-se, portanto, de uma pesquisa qualitativa e que contará com a coleta de dados secundários dos respectivos setores e rodadas de entrevistas com especialistas. Os resultados esperados ao longo destes quatro anos são diversos nas áreas de sustentabilidade, estratégia, responsabilidade corporativa, bem como nas relações estado-empresas e cadeias globais.

Além disso, o projeto deve trazer contribuições setoriais diretas ao comparar diferentes países e contextos institucionais e promover um melhor entendimento sobre o tema de indicadores de sustentabilidade aplicada ao contexto Global South. Uma vez que diferentes padrões podem ser explicados quanto às estratégias e políticas no Global South x Global North, potencialmente a retórica da “incapacidade de regular condições sociais e ambientais” pode ser substituída e levar a acordos globais mais tangíveis e possíveis de concretização.

Estamos ainda entendendo os contextos setoriais, mas em breve teremos mais novidades desta pesquisa para compartilhar aqui no blog. Não perca!

*Fernanda K. Lemos é pesquisadora associada na Universidade de York e pesquisadora visitante no Insper. Doutora em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo (FEA/USP).

Artigo publicado na revista Exame, reproduzido no Food Forum com autorização da autora.

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